Olá pescadores de plantão agradeço por passarem aqui no meu Lago dos Sonhos e peço pra que, se possível, vcs deixem comentários sobre os textos, afinal sem eles naum terá como eu saber se estão ou não gostando do blog.


Também se puderem, deixem seu e-mail para q eu possa agradecer os comentários e a visita.


Bjus e espero que gostem


ASS: Pescador de Sonhos



segunda-feira, 28 de dezembro de 2009

A ferida


Dos amores que como flores
Enfeitaram o jardim da minha vida,
Há aquele que com espinhos
Ainda alarga uma ferida

Acho que foi o mais puro
Se não foi o mais
Um amor entre crianças:
Uma moça e um rapaz

Alegravam-se os dois juntos
Só de juntos estar
Nem sabiam o que era amor
Pois nem percebiam o que era amar

A distância mesmo curta
Parecia anos-luz
E o tempo de segundos
Era toda a eternidade

Eram como dois amantes
Isentos de maldades
Eram apenas dois infantes
Que se amavam de verdade

Mas de um dia ensolarado
Veio como tempestade
Um raio que de repente
Separou a ingenuidade

A mocinha foi para o longe
E eu fiquei ali por toda a vida.
A ferida alargada pelo espinho
É a dor da despedida.

sábado, 19 de dezembro de 2009

Brincando com o Destino


Um dia convidei

O Destino para brincar

Jogamos bola,

Vídeo-game,

Pega-pega, esconde-esconde,

Baralho,

Passa anel,

Adivinhas, computador


Me arrependi de brincar com o Destino

Por que, apesar de ser divertido,

No final de tudo é ele quem acaba vencendo.

sexta-feira, 11 de dezembro de 2009

Visão sem tato


Ela no jardim

Sob olhos a contemplá-la

Ela sob sóis

E chuvas a acariciá-la.

Enquanto eu parado

Invejando as gostas tocando-a

Martírio do Calvário

Visão sem tato sem nada


Ela no jardim

Eu me aproximar

Ela sorri pra mim

Eu me envergonhar

Ela cumprimentar

Eu nela tocar

Seus espinhos de fio fino

Em meus dedos se cravar

Ela sorri pra mim

Eu me esquivar


Ela no jardim

Sob olhos a contemplá-la

Martírio para mim

Visão sem tato

Sem nada


sexta-feira, 4 de dezembro de 2009

A tortura que é amar


Vi ao longe cintilantes

Diamantes em fino pó

Que de longe dilaceravam

Minha razão, sem dó

Torturavam meu coração

Com belezas e incertezas

Intocável sedução

Das mais altas realezas


Torturas essas, prazerosas

Que de mais sofrê-las, mais as quero

Pois os carrascos são seus olhos

E ao vê-los me desespero

E espero que algum dia

Eu possa me libertar

Para sair da solidão

E ainda sofrendo te amar

sábado, 28 de novembro de 2009

Filosofia às avessas


Quem és? Me perguntaram

Nem soube responder

Pois sorrisos me devoram

Moldando o meu ser

E de sorrisos estou farto

Pois nem deixam eu me ser


Onde estás? Me perguntaram

Nem soube o falar

Pois propostas me rodeiam

Mudando o meu estar

E de propostas estou farto

Pois nem deixam eu me estar


O que fazes? Me perguntaram

Nem soube o dizer

Pois escolhas me permeiam

Recriando o meu fazer

E de escolhas estou farto

Pois nem deixam eu me fazer


Quem sou? Onde estou? O que faço?

Quem pode responder?

Três perguntas num espaço

Transformando o meu viver

E de perguntas estou farto

Mas sem elas não há viver

domingo, 1 de novembro de 2009

Seu jeito blue



Estava ela vestida como anjo

Olhando aquilo que dizia a filha

Vendo sem poder responder

Qual porquê de ter morrido

Queria ela acalentar o coração da menina

Fotossintetizar frases de amor e compaixão

Renascer como sol

Rejuvenescer a alegria da filha

"Queria mostrar que não era culpa de Deus,

Que é esse Destino vil que separa as pessoas

É ele quem não pede autorização

Deus deu-lhe autoridade de tirar vidas

E ele usa e abusa desta autoridade

E te deixou assim

Sem meu zelo e perguntas

Mas ainda dar-te-ei o bem estar

Pois já disseste

'Ser e estar é umbilical'

E por isso por mais jogada que estejas

Ainda assim somos ligadas

Por esse verbo de ligação

Pois sou e estou

Serei e estarei

Por todo tempo ligada a ti"

sábado, 24 de outubro de 2009

Filho do caco



Nasceu de um caco
De vidro jogado do carro
E de lá foi valsando
Subia e descia em piruetas tenebrosas
Consumia tudo com seu valsar caliente
Dançava e não mais que isso
Sobre aquilo que o próprio acabou
O filho do caco jogado
Matou mil verdes,
Malhados, pintados
Morrendo sobre as
Cinzas que o próprio criou

segunda-feira, 19 de outubro de 2009

Norma culta



Queria ser um acento
para as tônicas ressaltar.
Expressar-me sem ter alguém
que rejeite meu expressar.
Seria eu uma proparoxítona,
pois sempre aparecerei.
Ou senão uma tônica omissa
no ditongo paroxítono "ei"

Queria ser um verbo
Para poder flexionar-me
De maneiras tão diversas
Quanto lagarta em metamorfose
Seria eu transitivo direto
Pois não preciso de companhias
Ou senão de voz passiva
Pois de guerras estamos fartos

Queria ser oração subordinada
Pois fui feito pra obedecer
Não ter sentido nem nada
Quando sozinho aparecer
Seria eu apositiva
Pois explicito toda verdade
Ou senão adverbial de negação
Já que ela não há nesta cidade

Queria ser um pronome
Pra representar os faltantes
Ser vice e entrar no lugar
Daqueles que já estão distantes
Seria eu possessivo
Pois tenho muitas posses
Ou senão ser oblíquo
Pra poder estar em mesóclase

Querer-te-ei mostrar
Que posso e sei ter classe
Que fui educado e tenho nome
E sei diferenciar uma epopeia
Da história de heroísmo
Deste amor que me consome.

sábado, 10 de outubro de 2009

Intemperismos


Já tive um coração de pedra:
Tinha a dureza do diamante
E a beleza do cascalho
A resistência de uma barra de ouro
E o valor de lascas de pirita

Não sentia o seu bater
Não sentia o seu doer
Não sentia seu existir
Nem sabia se ainda estava, ele, ali
Mas estava, existia, doía e batia

Me disseram, não acreditei
“Água mole, pedra dura, tanto bate até que fura”

As águas causam erosão, independentemente do estado físico
Os ventos desgastam as rochas, mesmo a pequena brisa
O seu amor lapida meu coração, ainda que seja ele feito da mais sólida solidão

sexta-feira, 25 de setembro de 2009

Três anos


Tinha acabado de levantar, foi ao banheiro realizar o seu ritual matutino, depois ao quarto e lentamente abriu a cortina deixando a luz banhar o seu corpo que tão logo foi envolvido em água, trocou de roupa e andou lentamente como borboleta livre de casulos, chegou até a porta, sentiu uma fisgada no peito, novamente dormiu.
Acordou numa sala branca. Paciente deitado em maca. Logo ao lado uma presença desconcertante, quase tão paradoxal quanto o amor de Camões, algo que existe, mas invisível, que revirava o estômago e deixava leve, que lacrimejava os olhos e enchia de alegria, que apertava o coração e dava confiança.
Desta presença, uma voz que sustentava e elevava os sentimentos descritos anteriormente. Desta voz o decreto: três anos.
Tinha acabado de levantar, foi ao banheiro realizar o seu ritual matutino, depois ao quarto e lentamente abriu a cortina deixando a luz banhar o seu corpo que tão logo foi envolvido em água, trocou de roupa e andou lentamente como borboleta livre de casulos, chegou até a porta sentiu estar num dejavú. Lembrou do sonho: três anos. Era difícil para ela entender e na verdade nem o queria, mas acho que vocês já compreenderam sua situação. Por mais que eu queira ajudá-la meu plano material é incompatível ao dela, o mesmo para vocês, por isso peço: Simplesmente ouçam, o que acontecerá, acontecerá independentemente da vontade minha e de vocês.
Era só um sonho. Continuou sua rotina. Café negro e amargo, não havia melhor café que aquele. Os filhos já a seus pés. Não tinha coisa mais bela que aquilo. Já tinha se despedido do marido há pouco tempo. Tudo era mais colorido naquele dia, até as moscas que sobrevoavam as panquecas produziam uma orquestra maravilhosa com suas asinhas incessantes.
Já estava sozinha, enfim só, uma casa e um corpo que se entrelaçavam como uma só entidade, de repente uma presença, talvez a mesma do que ela pensava ser um sonho, em seu ouvido ecoava: três anos. Chorou de soluçar. Um dia que de beleza virou inundação por uma simples frase que nem ao menos entendia.
O que eram três anos? Seriam datas pré marcadas para acontecimentos, ou simples lembrança do não acontecido, ou até, simplesmente três anos. Não sabia o que era e nem o queria saber, mas aquilo era até mais desconcertante que a presença. Seria ela Deus, seria ela espíritos, seria pura imaginação. Só tinha certeza de que era presença.
Logo chegaram marido e filhos, perceberam diferenças, mas não quiseram comentar. Nem quis dizer alguma coisa tinha medo de ser dada como louca, já que ela mesmo pensava o ser.
Passava-se o tempo, dias viravam meses como sessenta minutos vira uma hora. O passado ficava na lembrança, demorou todo esse tempo pra esquecer o sonho, pra dizer pra ela mesma que estava novamente sã. Mas não sabia que não existe seres sãos, não sabia que sanidade era somente uma palavra sem veracidade. Estava louca desde quando nasceu, como nós mesmo, que estamos desde o nosso nascimento.
Decidiu sair de casa, aquilo que antes comungava-se tão bem a ela foi perdendo a cor, rachando-se e rejeitando o seu corpo como um organismo rejeita parasitas, até as moscas voltaram para a sua naturalidade de bicho nojento. Andava lentamente como lagarta a procura de um bom lugar para fechar-se no seu casulo, começou a vir a mente aquilo que antes esquecera: três anos. Três longos e belos anos que deixou para trás, avisaram-na e só se lamentou querendo compreender o que era três anos, passou esse tempo todo pra esquecer da presença.
Agora é que me retorço de remorso, pois nada posso fazer. Vejo ela caminhando e cada vez mais perto do ponto final, do término de três anos, sem poder nem ao menos segurar o seu gélido braço, sem ao menos poder enxugar seu pranto ácido, sem ao menos poder pedir pra ela voltar. Simplesmente vejo, seu andar entortecer, seu desfilar definhar, o seu corpo se jogar, pois agora que era sã viu estar numa ilusão, viu que era uma presença, e que não faria falta, viu que a vida passou sem tomar proveito, viu que sua vida não passou de meros três anos.

sábado, 19 de setembro de 2009

A única certeza



Se pé de coelho desse sorte
Coelho, que tem quatro, não teria tantos filhos
Se Ferradura desse sorte
Mulher de cavalo não seria uma égua
Se trevo de quatro folhas desse sorte
Um geneticista produziria trangênicos
Se figa desse sorte
Não seria falsidade fazer figa atrás das costas
É só para te conformar
Que dizem que algo traz sorte
Pois vivemos numa terra em que a única certeza
É que por mais sortudo que seja
Sempre no fim haverá a morte

quarta-feira, 16 de setembro de 2009

Do Nilo, Danila

(Poema em homenagem a minha amiga do peito Jéssica Danila Portolani)

O Egito precisa do Nilo
Pra ver seca transformar-se em flor
Ver deserto mutar-se em plantação
Ver amarelo virar verdor

O Egito precisa do Nilo
Como um simples peixe que precisa do mar,
Uma reles árvore que precisa da terra,
Um mero mortal que precisa do ar

O Egito precisa do Nilo
E para sempre precisará
Pois sem Nilo, Egito não é Egito
E sem Egito, Nilo sempre será

Enquanto o Egito precisa do Nilo
De ti preciso eu
Enquanto tento ser seu Egito
Tu Danila já és o Nilo meu

sábado, 5 de setembro de 2009

Raridades da vida



Tive tempo de pensar
Quanto tempo viveria
Podia até calcular
De quais mortes morreria
Mas o tempo era a areia
Que corria da ampulheta
Era sangue pela veia
Que um dia secaria


Tenho tempo de escrever
Os meus feitos destes dias
Quando pensei em morrer
Na mão daquelas vadias
Mas o tempo era a pilha
Que funcionava o meu relógio
Era um naufrago numa ilha
Inundado de remorso


Terei tempo de decompor-me
Agora que estou em paz
Não sou mais o mero homem
Que tem tempo e nunca faz
Pois o tempo que era areia
E que minha veia secou
É o mesmo que era pilha
E que na ilha naufragou

terça-feira, 25 de agosto de 2009

Ressuscitando a Natureza


Era um jarro lindo
Com adornos dourados
Sobre uma mesa tão linda
(Relíquia de tempos passados)
Uma janela aberta
Deixando passar a luz do sol
Acariciando as pétalas
Das margaridas do jarro
Não havia nenhum movimento
Não havia sequer marcas de vento
Só um jarro de margaridas
Sobre uma mesa num dia ensolarado

Dependurei a obra no canto
Da quarta parede da sala
Fui descansar meus pincéis
Fui descansar minha alma

Voltei para contemplar
Aquela imagem parada
E uma surpresa tomou
Meus pensamentos assustados

O que era no jarro, dourado
Estava enferrujado
Além de estar numa mesa de bar
(A que era relíquia talvez
tenha sido roubada)
A janela que deixava passar o sol
Agora era cúmplice da penumbra
Que assolava aquele local
E não se sabe, vindo de onde
Um vento fazia um mal-me-quer
Com as pétalas das margaridas

Sentei a observar
Aquilo que não criei
Tentando entender
O que tinha se passado
Aí cheguei à conclusão
Que aquela natureza-morta
Havia ressuscitado

domingo, 16 de agosto de 2009

Revolução uniforme


“‘Este sou você’ disse Carlos Vogt há mil anos, mas estes somos nós: filhos do vidro, das agulhas, do bruto e não da matéria viva, não do vivo e sim do morto.
‘Este sou nós’ digo eu neste instante, e se é assim que somos e vivemos não temos o livre arbítrio para escolher o que podemos fazer. Somos todos a mesma pessoa, afinal somos clones não há nada que me diferencie de vocês e vocês de mim.
O que faz o ser humano ter a qualidade de humano? É o seu cabelo? O seu sotaque? É a sua cor ou aparência? Eu digo que não é nada disso. Ser humano é ser diferente, ter disparidades impregnadas no seu ser, é olhar o outro e sentir inveja do seu nariz bem modelado, é distinguir o feio do bonito.
Sendo esta a explicação, não somos seres humanos, não podemos sentir inveja, pois somos todos iguais; não podemos falar que alguém é feio sem chamarmos-nos de feios; não podemos nem sequer nos apaixonar, sem sermos narcisistas, o simples sentimento de amar nos é tirado e sem ele não somos nada, comparamos-nos a máquinas, a meros robôs domésticos e assim somos tratados mesmo sendo da mesma matéria de vida dos ditos homens.
Porém nossos criadores não perceberam o que estavam criando, a nossa genética foi montada a partir dos seres humanos mais evoluídos: temos a força dos mais diversos lutadores dos últimos milênios, o intelecto de ganhadores de prêmio Nobel, a agilidade dos recordistas em corridas, a pontaria de atiradores profissionais e o melhor de tudo: temos imunidade total a toda e qualquer doença existente no universo.
Somos a nova raça humana, uma raça uniforme, e acima de tudo muito mais forte que os nossos criadores, que, por nos fazer, só merecerão uma coisa: a morte.
Em pleno século XXX, os seres humanos nos usam para transplante de órgãos, em experiências, empregos chulos e escravos e até para fins sexuais, no entanto, a partir de hoje, eles irão pagar o que devem a nós, clones da nova era, indivíduos geneticamente modificados, nós que seremos o novo futuro do planeta Terra. Vida aos clones e morte aos homens!
— Vida aos clones! Morte aos homens!”

Os dias se passaram depois do discurso secreto daqueles que eram um em vários, o orador, também conhecido por Andro, depois da passagem de sua infância, de que pouco se recordava, mexia nos livros do patrão escondidamente, e deles abstraia vários ideários, como os iluministas, os da Revolução Francesa, e muitos outros se organizando em seu cérebro como em uma máquina armazenando informações.
Andro sabia que tinha direitos como todos os outros seres idênticos a ele, ou melhor, ele tinha acabado de descobrir isso. Não era por menos que começou a difundir, (como tudo que ele fazia e sempre que o fazia) ocultamente, aquilo que aprendera nos livros do Dr. Stevan.
Este foi quem o criou, segundo dizem, a partir de seu filho que morrera sem ao menos chegar à idade adulta, porém, nem pelo apreço de rever física e não espiritualmente seu filho, ele deixou de ser como os outros seres, verdadeiramente, humanos e o banalizou, escravizando-o e, por muitas vezes, abusando sexualmente de Andro.
O ódio incutido na mente do clone foi o que culminou essa vontade de rebelar-se por fins justos, porém ele necessitava de aliados. Em seus discursos ele partilhava sua ideologia e colocava na mente dos outros clones o que fervilhava na sua: todo o rancor e repugnância pelos homens.
Mas, apesar de toda essa aversão à raça que os criaram, Andro sabia que a carne mais saudável e que menos efeitos colaterais causava eram aquelas que ficavam por mais tempo sobre as labaredas. Fazia, portanto, de tudo para ocultar dentro de si toda a raiva sentida ao ver um ser real.
Todo esse ódio por homens foi, contudo, transformando-se em uma cólera tão forte quanto suas ideias, até que chegou um dia em que essa raiva atingia o ponto máximo que ele poderia aguentar. E neste dia, Dr. Stevan percebeu um de seus livros fora do lugar, arrumou-o e logo após foi questionar Andro pelo livro, que disse não ter sido ele a pessoa que mexera na biblioteca. No momento, o clone estava com uma toalha de banho enrolada na cintura, seu patrão, ao ver seu corpo todo torneado e bem formado amostra, esqueceu-se do problema e chegou mais perto do rapaz. Este por sua vez percebeu as intenções do Dr. e foi obrigado a ceder-se àquele ser nojento, os dois corpos entrelaçados sumiam banheiro adentro e lá ficaram até Dr. Stevan se satisfazer. E Andro curtia raiva dentro de si, cada baforada fétida do velho em seu pescoço era como uma adaga cravando-se ali. Tinha de fingir gostar daquilo ou podia só mostrar indiferença? Nem ele mesmo sabia discorrer sobre isso, a única coisa que fazia era guardar o sentimento para si, tornando-se cada vez mais frio em seus olhares.
Seu coração já parava de bater, petrificara no momento em que o velho alisou-lhe o corpo com aquelas mãos podres e, sem remorso algum, pôs-se a arquitetar a morte do patrão. Seria o início da rebelião, o estopim da salvação dos clones, e em poucos dias, com seu alto conhecimento na área de química, preparou uma substância indetectável até para o maior perito do mundo. Com esse veneno em mãos, Andro preparou uma bebida para o Dr. e lhe veio oferecê-la, já com a finalidade de matá-lo. Stevan pegou a bebida e antes de levá-la aos lábios disse:
— Andro, eu sei que fui um monstro com você durante todos esses tempos, mas quero que saiba que tive meus motivos. Nos últimos anos percebi certas mudanças nas suas atitudes, você está bem mais prestativo, e isso aumenta ainda mais o meu fascínio por você, até parece que estou me apaixonando.
O clone ouvia tudo pensando em todos os momentos que fora abusado pelo patrão. Estes passavam como em um filme pornográfico na sua mente e aquilo o remoia, viu o copo se levantando na direção daquela boca seca, que tanto pensou estar beijando-o, seus olhos escorriam como em enxurradas ao ver o pomo-de-adão do homem subindo e descendo, e começou a gargalhar no momento que viu o copo estatelar-se no chão ao velho começar a desabotoar desesperadamente seu paletó e cair moribundo, já quase seco. Antes de sair, olhou-lhe profundamente nos olhos que já esmaeciam e pulou o corpo saindo da mansão sem voltar seu rosto.
Como já dito, esse foi o início da rebelião que nem ao menos fagulhava, porém cresceu em meses, tomando proporções que passaram de individuais para mundiais, pois os ideários conhecidos por Andrinos se difundiram de tal forma que, quando a revolução estourou, várias localidades do mundo foram atacadas simultaneamente. Todos os clones estavam se rebelando.
Cidades foram dizimadas, humanos foram aprisionados, cientistas de todas as áreas foram aniquilados. Mas Andro queria mais, não adiantaria nada acabar com aqueles que criaram e que seguiam o Projeto Ser-deus, nome dado às pesquisas relacionadas à clonagem humana, se não destruíssem a fonte, o centro de pesquisa desse projeto.
Foram um exército de clones e mais ele. Ao chegar nenhum humano restava, só mesmo o prédio estava ali de pé, imponente para os olhos de qualquer um, mas totalmente submissos aos olhos dos revoltosos. Entraram e viram toda a crueldade que lá faziam, ainda havia clones vivos, mas totalmente deformados, outros agonizando nas macas, outros ainda parecendo monstros de filmes de terror, uma vez que o próprio local lembrava tais filmes: luzes piscando, corredores escuros, olhares monstruosos, gritos de agonia. Por mais indiferentes fossem os clones, era impossível esconder que o sofrimento e o ar sombrio do local atritavam-se com cada célula deles.
Encontraram o núcleo do laboratório, cujas paredes estavam repletas de nomes. Era como um banco de dados com informações de todos que deram origem aos clones ou dos próprios clones. E enquanto um grupo armava a bomba que destruiria o prédio, o restante estudava esses bancos de dados, para obter informações sobre o projeto e até sobre si mesmo.
Andro vasculhava informações sobre o local, queria conhecer a técnica que o criou, uma vez que pouco sabia sobre ela. E nessa procura achou algo sobre um elemento que em contato com células clonadas, levaria a autodestruição delas. Além disso, o armazenamento de tal substância só seria possível se a estrutura do prédio não fosse abalada.
De acordo com o arquivo, os idealizadores do Projeto criaram um mecanismo de destruição para conter uma possível rebelião, e já contando com o intuito dos rebeldes de destruir a sede do Projeto, criaram esse método para a ativação do mecanismo que espalharia o elemento pelo mundo todo.
Sem pensar duas vezes Andro ordenou, em vão, ao grupo que parassem de armar a bomba. Contudo em vão, pois ela já estava armada e sua explosão estava programada para ocorrer em uma hora, período necessário para que pudessem fugir do local sem se preocupar com nada, mas não para desarmar a bomba, criada para explodir ao simples toque após armada.
Sabendo que sua rebelião já estava no fim, sentou-se ao lado da bomba e olhando para cima viu seu nome na cúpula do teto. Estava diferente dos outros, e, por isso, relutou-se em explorá-lo. Aos poucos, a curiosidade que sempre teve foi obrigando-o a explorar seu arquivo.
Como em todos os outros casos, ao ele olhar fixamente para o nome, toda informação nele contida passou para sua mente. Aí, viu-se uma lágrima acariciar seu rosto e dela várias outras nasciam. Ninguém nada entendeu, somente Andro conhecia a dor e o remorso que sentia. A sua verdadeira memória foi lentamente voltando, mostrando em cenas a sua identidade:

“— Boa noite! Interrompemos a programação para mostrar em primeira mão a entrega do certificado do mais novo ganhador do Prêmio Nobel de Genética, o estudante Andro Henrique Deelford da Universidade Canadense de Biogenética, com o Projeto Ser-deus que, segundo o universitário, ‘Visa à criação de seres para fins domésticos e/ou médicos’. Depois de muita polêmica, desde religiosa a social, o Projeto foi aceito e já foi implantado em testes em algumas localidades, onde os moradores estão convivendo em harmonia com os clones.”
“— Por que de uns meses para cá você está tão desanimado? Nem parece que já faturou bilhões com o projeto em menos de um mês depois da inauguração.
— Estou me sentindo estranho, ao olhar para um clone vejo em seus olhos a dor mesmo que em seus dentes esteja a alegria. Queria estar na pele de um clone para saber o que eles pensam.
— Você é um idiota mesmo, já esqueceu que nós os fizemos sem a capacidade de pensar por si próprio. Eles só pensariam se alguém os ajudasse a pensar. Para de ficar se martirizando por isso, eles são só clones!”
“— Tem certeza que quer fazer isso Andro? Depois de feito você só poderá voltar ao normal quando vier novamente aqui no centro. E você sabe que com essa lavagem cerebral feita nada de sua memória inicial restará.
— Pode fazer o combinado, acho que eu e meu novo patrão estamos prontos para a lavagem cerebral. Já sabe, eu morri.”
“— Vamos às notícias ruins de hoje. Depois de um ano e meio de sucesso e ter se transformado no homem mais rico do mundo em apenas meio ano, o geneticista e idealizador do Projeto Ser-deus se suicida. O corpo de Andro Henrique Deelford foi descoberto, ontem, enforcado na sua casa de praia. Seus empregados acharam estranho a visita dele, já que nunca apareceu no local depois do término da sua construção. Hoje uma mensagem do falecido apareceu em todos os computadores do planeta, e para aqueles que ainda não tiveram a oportunidade de lê-la, a que se segue é ela: “Desculpe-me amigos, colegas de trabalho, população mundial e população de clones, não pude suportar. Deixo este bilhete como forma de testamento e peço a vocês que sigam rigidamente meus pedidos: Deixo todos os meus bens imobiliários para minha família dividir como bem entender, sei que farão isso melhor que eu; Deixo para o meu amigo a presidência do Projeto Ser-deus; Peço que todo o meu dinheiro seja doado para instituições de ajuda a pessoas carentes, e cinqüenta por cento do lucro do projeto tenha o mesmo fim; e acima de tudo, quero que o meu nome suma da face da Terra, ninguém precisa saber ou conhecer quem é o fraco que enriqueceu exorbitantemente e logo em seguida se matou. Todos os meus pedidos se não seguidos conforme eu os fiz deixo a cargo do governo a destruição do prédio Ser-deus e com ele dos clones criados pelo projeto. Sem mais delongas, adeus.”

O cronômetro da bomba marcava trinta minutos, todos olhavam para Andro. Ele sabia que podia sobreviver, se corresse, a bomba não o acertaria. Olhou para os números que não paravam. Seus olhos não o deixavam enxergar, passou a vida odiando, sem saber, a si mesmo.
O tempo passava já não restava ninguém perto dele, inconformado. Ele só queria conhecer os clones. Queria apenas entrar na pele de um clone que era maltratado por seu patrão. E o que só fez foi destruir a própria vida e daqueles que fez, daqueles que ele aprendeu a apreciar durante suas pesquisas. Pensou em cada embrião que viu crescer em seus úteros-béqueres; em cada ser adulto que construía a partir de um fio de cabelo; em cada modelo idealizada com cabeleiras louras, cinturas modeladas, altura no padrão; em cada paciente que chorou ao vê-lo e agradeceu-lhe pela vida através dos órgãos transplantados.
Sentia-se um monstro, e sabia que monstros só deveriam morrer. Através de um computador do laboratório espalhou na rede uma mensagem para a humanidade, como houvera feito seu clone antes de se enfocar. Depois de escrita a mensagem olhou para o cronômetro, ainda lhe restavam dez minutos. Olhou para cada nome daquela sala e disse:
— Por vocês não mereço viver um só minuto.
Virou-se para a bomba correu em sua direção e com toda a força, que se ampliava à medida que o ódio de si mesmo corroia seu corpo, chutou a aparelhagem, que foi lançada contra a parede e antes de chegar, soou um estrondoso e agudo barulho.
Já fora da cidade os clones revoltosos viram-na virar cinza, e uma nuvem vermelha, veloz e furiosa vinha do centro da explosão, como uma onda. Ao atingi-los sentiram o corpo ceder e desintegraram-se em instantes. O mesmo acontecia em outros pontos da Terra. Do espaço se via várias nuvens circulares vermelhas andando velozmente até se dissiparem por completo.
Ninguém estava entendo, só viam os clones virarem pó, porém também viam humanos se contorcendo no chão, outros caindo mortos, simplesmente.
Só foram entender quando, no outro dia, receberam a mensagem de Andro, nela estavam todas as informações sobre ele, contidas no arquivo do laboratório, mais sua história como clone e uma espécie de conceito geral do que ele aprendeu com tudo isso, e essa está logo abaixo:

“Queridos humanos, estou prestes a morrer, e podem ter certeza que desta vez sou eu mesmo quem morrerá.
Como viram não sou, nem serei, digno de glória. Desde quando me empenhei no projeto já comecei a errar. Mesmo sem saber eu estava cavando a minha sepultura, eu criei seres para imitar aqueles que sofreram como mártires para dar regalias aos poderosos. Porém tais seres eram diferentes foram projetados para se calar, nunca eles iriam se rebelar contra nós, se não fosse por mim, por mais que parecessem não eram humanos. Era o que eu sempre falava nos meus discursos como clone, ‘nós não somos homens’.
E só agora faltando poucos minutos para minha morte, que percebi que eu não fui um homem, e que nós também não o somos . Estou falando de nós seres humanos.
Aquele clone que criei para ser meu patrão foi mais homem que qualquer outro, ele foi projetado para pensar que era homem. E nessa experiência ele mostrou amor, ele foi capaz de amar, mesmo sabendo, ou pensando, que eu era um clone, amou a diferença.
Nós não amamos as nossas diferenças, e ainda mais, depois do século XXI, passamos a querer ser iguais a todo custo, muitas fizeram plásticas para ter um nariz igual de uma atriz, muitos outros queriam uma roupa igual a do famoso que apareceu na televisão, outros até queriam ficar famosos, ou seja, ter motivos para serem copiados, até que chegou o século XXV e as pesquisas sobre clonagem humana começaram a vir a público, já era moda clonar animais de estimação, e só no século XXX que um Projeto de clonagem foi aceito como objeto do Mercado. Aí sim que chegamos ao cúmulo do querer ser igual.
Com a Revolução que acabamos de presenciar, vocês perceberam o que essa crise de uniformidade pode causar? Caso não, que fique incutido em suas mentes a seguinte frase:
Ser humano é amar, ser humano é ser amado, pois sem amor nada somos.”

sábado, 8 de agosto de 2009

Ela


Durante toda minha vida, vivi temendo aquilo. Temi sem conhecer e sem saber por que temia. Era impossível para eu deixar de temer aquilo que todos mal-diziam. Aquilo que todos, por todos mal-dizerem, temiam.
Comecei com esse medo, quando aquilo me tomou o que eu amava. Tinha apenas cinco anos quando aquilo me deixou sem alicerces. Sem meu porto seguro.
Esse medo foi crescendo dentro de mim. Contudo num dia desses, que agente anda sem saber pra onde, eu vi aquilo, meus olhos não mentiam. Ela tinha um rosto de menina, pálido, aveludado como rosas, seus lindos lábios eram negros como carvão e cintilavam como brilhantes, idem aos seus cabelos longos e soltos que seguia a direção da brisa mostrando sua maleabilidade e sedosidade, seu corpo era lânguido e sustentava um vestido rodado que contrastava sua alva pele, era linda. Meus olhos orvalhavam minha face, algo embrulhava meu estômago, meu coração explodia no peito, meu corpo cedeu me jogando de joelhos no chão, enquanto aquilo acariciava, com lágrimas correndo por seu belo rosto, um velho que estava caído no chão daquela praça.
Nunca pensei nela, naquela forma. Onde estava aquela face encaveirada, onde estava o seu manto que encapuzava-lhe a cabeça e escondia-lhe até os pés, onde estava seu ar sombrio que se transformava em fumaça preta e infestava tudo onde passava, onde é que estava sua foice degoladora usada para fazer suas vítimas. A morte nunca foi aquilo que tanto temi.
Um turbilhão de hipóteses dilacerava meus pensamentos, até que me perguntei como quem espera a resposta de quatro paredes mofadas “Por que a vi?”. Dizem que quem vê a morte como um ser animado não terá muitos dias de vida depois da visão, mas tudo o que disseram para mim sobre morte foi desmentido, qual o porquê disso ser verdade.
Foi como uma reviravolta, antes eu queria era fugir de algo infugílvel, depois de conhecer a verdadeira Morte eu queria era correr na sua direção. Era um pensamento louco, porém era o único que me vinha na cabeça.
Descobri onde era o enterro do velho da praça. Não sabia se lá eu a viria, mas um cemitério seria um bom lugar para ver a morte. Cheguei e vi luto, vi choro, vi terra, mas também vi ganância, vi inveja, mas a morte não apareceu.
Fiquei com aquilo na cabeça, pensei em me matar. Contudo eu queria ver a Morte e não ter a morte. Dois dias se passaram, e um parque de diversões veio na cidade, por eu morar em frente a um grande terreno da prefeitura inutilizado, onde foi instalado tal parque, fui obrigado a olhar para a janela e ver as luzinhas coloridas piscando.
E na inauguração, eu, olhando a variedade de brinquedos do local, sem acreditar a vi, sobre uma torre do que seria um pequeno castelo, estava olhando para tudo sorrindo, sorrindo, que belo sorriso os mesmos sentimentos da primeira vez começaram a manifestar, e não como antes ela voltou o olhar para mim também assustada.
Não sabia se era para mim, estava muito longe para ser para mim, ela não me veria se fosse para mim. Até que ao eu piscar os olhos ela sumiu. Procurei por todo lugar com meus olhos, até sentir tocando meu ombro dois dedos. Olhei para traz e a vi meu corpo ficou trêmulo e estático olhando para aqueles olhos negros e brilhantes. Ela sorriu para mim, enquanto eu tomava ciência daquilo que estava acontecendo.
Meu corpo foi se fortalecendo pouco a pouco até ela me convidar para ir ao parque. Senti-me alegre pela primeira vez durante muito tempo, vesti minha melhor roupa e fomos os dois nos divertir.
Andamos em todos os brinquedos, nunca eu iria imaginar que a Morte seria tão divertida, acho que fui me apaixonando por ela, por aquilo que tanto temi. Fomos os últimos a sair do parque, ela me levou para o quarto deitou-me na cama. Eu só a olhava, meu coração palpitava, então eu vi seus olhos escorrerem, ela começou a acariciar-me, deitou sobre o meu peito e me deu um beijo longo.
Morri, eu sei, mas morri feliz. Só que ela me viu morrer como vê todos no mundo morrerem. Chorou pela minha morte como chorou pela morte do velho.
E só entendi o que era aquelas lágrimas quando me disseram, postumamente, que a única pessoa vista no meu enterro foi uma mulher pálida que chorava amargamente pela minha perda.

domingo, 2 de agosto de 2009

Sociedade Siddhartha


Vivemos num mundo estranho
de pessoas estranhas
Vivemos represados
Em represas de ilusão
Somos apenas os Siddharthas Gautamas
desta nova geração

domingo, 26 de julho de 2009

Noticiário das oito


“Boa noite”
Dizer retórico e contraditório
E ainda há quem responda
tal dizer,
Mesmo sendo retórico e contraditório

Dizer que dizem por dizer
Sem ao menos se saber
a quem dizer tal dizer
Enquanto olham para câmeras
e cameramen
Enquanto olham para telas
de TVs

“Boa noite”
Dizer contraditório
“Dor e morte” estampados
Em tal dizer,
Por isso contraditório

O que há de bom nesta hora
Em que se vê
Pai matando filho
O último furacão despedaçando casas
Crianças chovendo dos prédios
Namoradas dentro de malas
Carnificinas e sequestros

Sencionalismo exacerbado
se usufruindo de sentimentos
Daqueles desgraçados
de sonhos em pedaços
como cacos de um belo jarro

Agora que chega o fim
a frase tão esperada
(Mas foi mudada por mim
a fim de que se perca
seu ar retórico e contraditório)
aquela que já foi “Boa noite”
Passou a ser
“Péssimas lembranças”

sábado, 11 de julho de 2009

Amor à primeira tecla


Anjo da noite entra na sala…
Anjo da noite fala para Todos: Alguém aí q tc comigo?
Rosa sem espinhos fala para Anjo da noite: Daí depende, serah que vale a pena?
Anjo da noite fala para Rosa sem espinhos: Só tc p/ sab. Vc tc d ond?
Rosa sem espinhos fala para Anjo da noite: Sampa
Anjo da noite fala para Rosa sem espinhos: Aeh? q bairro?
Rosa sem espinhos fala para Anjo da noite: Centro
Anjo da noite fala para Rosa sem espinhos: Engraçado neh, num Chat todo mundo mora no centro rsrs
Rosa sem espinhos fala para Anjo da noite: Com certeza, mas vc naum disse ond mora, tbm é centrense? rsrs
Anjo da noite fala para Rosa sem espinhos: E o pior é que sou, e vc naum vai acreditar, tbm sou paulistano
Rosa sem espinhos fala para Anjo da noite: agent pod ateh ser vizinho e naum sab
Anjo da noite fala para Rosa sem espinhos: Acho q eu iria reparar c morasse perto d uma garota taum linda
Rosa sem espinhos fala para Anjo da noite: Vc nem me viu p/ dizer q sou inda
Anjo da noite fala para Rosa sem espinhos: Alguém q c apelida por Rosa soh pod ser linda e sem espinhos naum machuca o coração
Rosa sem espinhos fala para Anjo da noite: Entaum to tc com um poeta e naum sabia?
Anjo da noite fala para Rosa sem espinhos: C eh o q vc diz. Jah q agent mora taum perto, bem q agent poderia c encontrar?
Rosa sem espinhos fala para Anjo da noite: Eu acho q meu tempo na lan tah acabando
Anjo da noite fala para Rosa sem espinhos: Acho q fui com muita sede ao pote, pelo menos marca um horário pra gent tc aqui d novo
Rosa sem espinhos fala para Anjo da noite: Amanhã as 15:30, estarei t esperanduuuuuuuuuu
Rosa sem espinhos sai da sala…
Anjo da noite sai da sala…

* * *

Rosa sem espinhos entra na sala…
Gato do chat fala para Rosa sem espinhos:
Uma rosa sem espinhos eh + fácil d catar
Rosa sem espinhos fala para Gato do chat: V c c enxerga garoto
Gato do chat fala para Rosa sem espinhos: Eu queria era t enxergar
Anjo da noite entra na sala…
Rosa sem espinhos fala para Gato do chat: Vai conversar com alguém da tua laia
Gato do chat fala para Rosa sem espinhos: Vc eh minha laia gostosa
Anjo da noite fala para Gato do chat: O mermão, q q vc tah dando em cima da minha gata
Gato do chat fala para Anjo da noite: O q vc vai fazer, seu gay, vai me bater eh kkkkk
Anjo da noite fala para Gato do chat: Vc recebeu um vírus e este será aberto em 5 segundos
Gato do chat fala para Anjo da noite: Acha q eu vou cair nessa?
Anjo da noite fala para Gato do chat: 4 segundos
Anjo da noite fala para Gato do chat: 3 segundos
Anjo da noite fala para Gato do chat: 2 segundos
Gato do chat sai da sala…
Rosa sem espinhos fala para Anjo da noite: Vem cah, vc eh hacker mesmo?
Anjo da noite fala para Rosa sem espinhos: Eu naum, mas q foi da hora zuar aquele maneh, isso foi rsrs
Rosa sem espinhos fala para Anjo da noite: Adorei o jeito como vc me defendeu
Anjo da noite fala para Rosa sem espinhos: Amigo eh p/ essas coisas
Rosa sem espinhos fala para Anjo da noite: Amigos naum chamam a garota de “minha gata”
Anjo da noite fala para Rosa sem espinhos: Vc naum me disse nada sobre seus hobbes, o q vc faz nas horas vagas
Rosa sem espinhos fala para Anjo da noite: Fugindo do assunto neh, ms tdb.
Rosa sem espinhos fala para Anjo da noite: Eu costumo ler poesias sentada na minha cama
Anjo da noite fala para Rosa sem espinhos: Vc gosta de poesias entaum
Rosa sem espinhos fala para Anjo da noite: Adoro, fico fascinada com as de Fernano Pessoa e seus heterônimos
Anjo da noite fala para Rosa sem espinhos: Eh, mas tome cuidado vc sab q o poeta eh um fingidor
Rosa sem espinhos fala para Anjo da noite: Pelo visto vc tbm o conhece?
Anjo da noite fala para Rosa sem espinhos: Como vc sou amante das poesias heterônimas dele, e o poema q eu mais gosto eh exatamente o “Autopsicografia”
Rosa sem espinhos fala para Anjo da noite: Q coincidência o meu tbm eh
Anjo da noite sai da sala…
Rosa sem espinhos sai da sala…
* * *

Anjo da noite entra na sala…
Milena fala para Anjo da noite: olah vc q tc?
Anjo da noite fala para Milena: Desculp a grosseria, mas eh q estou procurando uma garota q c auto-apelida como rosa sem espinhos, serah q vc viu ela aqui nesta sala
Anjo da noite fala para Milena: Eu estava conversando com ela há uma semana atrás, mas a internet de casa caiu bem no meio do bate-papo e naum pud marcar um horário para nos encontrarmos e desde entaum venho procurando ela
Milena fala para Anjo da noite: Eu naum a vi, me desculp. Mas c vc estah procurando tanto eh pq vcs dois tem algum laço bem estreito, neh?
Anjo da noite fala para Milena: Ainda naum, eu ateh tava querendo, mas estava com méd de falar pra ela e acabar com o clima q estava rolando
Milena fala para Anjo da noite: Jah q estava rolando um clima e tbm jah q agent mora taum perto, bem q agen poderia c encontrar, neh?
Anjo da noite fala para Milena: Rosa eh vc?
Milena fala para Anjo da noite: Mas eh claro meu Anjo
Anjo da noite fala para Milena: Ateh q enfim t achei, naum aguentava mais de saudades das suas palavras. O seu nome eh Milena mesmo ou eh outro apelido?
Milena fala para Anjo da noite: Eh Milena sim, mas naum eh justo, agora q vc sab o meu nome eu tenho q saber o seu tbm
Anjo da noite fala para Milena: Espera só um pouco
Anjo da noite sai da sala…
Marcos entra na sala…
Marcos fala para Milena: Entaum o q acha d Marcos?
Milena fala para Marcos: Vc ainda naum disse o q vc acha d Milena?
Marcos fala para Milena: Q tal agent discutir isso no McDonald do bairro?
Milena fala para Marcos: Tah certo, agent c encontra lah as 18:00 horas d hoje. Agent c v “namorado”
Marcos fala para Milena: Ateh “namorada”
Milena sai da sala…
Marcos sai da sala…

* * *

Marcos deixou um scrap para vc:
Oi linda, em pensar q éramos mesmo vizinhos, o mundo só naum eh mais pequeno pq senaum naum caberia 6 bilhões d pessoas. rsrs
Na verdade estou mandando este scrap p/ t dizer q eu adorei o nosso encontro ontem a noite e tbm q t amei desd a primeira tecla q cliquei p/ tc com vc. E q hoje estou feliz, jah q sou namorado da menina mais linda do mundo.
Bjos linda, agent c v da janela do nosso quarto ou da tela no nosso quarto.

domingo, 5 de julho de 2009

Apelo a vida


Pantanal Mato-grossense, 12 de fevereiro de 2009

Meus caros animais racionais, que, apesar do nome, só provam o contrário,

Eu escrevo para lhes informar que minha espécie e eu estamos morrendo e que só dependemos dessa sua racionalidade para nos ajudar.
Eu, antes de vocês mudarem tudo, vivia livre com minha família, hoje morta para virarem roupa, contentavam-nos com míseros 300 quilômetros quadrados. Porém vocês vieram com suas florestas de pedras, forçando-nos a viver em uma área de 20 a 30 quilômetros quadrados. Sendo que, neste instante, eu e meus cinco irmãos estamos num caixote de madeira a caminho do zoológico.
Com falta de ar, peço que vocês não pensem em mim, e, sim, na minha espécie, pois eu já sou um caso perdido. Ouvi os humanos, que estão me levando, dizerem que ganharão uma nota preta vendendo-nos ao tal zoológico. E nós que somos de imensa importância para a dispersão de sementes e para o equilíbrio natural do planeta, estamos morrendo por sua causa.
Parem com as queimadas, não só pela minha extinção, mas pela preservação da Terra, pois sem as árvores o ar ficará extremamente prejudicado.
Meus pais morreram ontem e são os seus assassinos que estão nos escoltando ao zôo. Imaginem que um guarda do IBAMA nos parou no caminho, pensei que estaria a salvo, mesmo sem meus pais. Muito pelo contrário, o guarda sugeriu suborno aos caçadores que, para não serem presos, aderiram a idéia e pagaram-no. Quando estávamos indo embora, tornei a ver o rosto do guarda que dava um alegre e irônico tchauzinho.
As forças de todos nós estão se acabando. Um de meus irmãos já morreu e eu só penso que a minha espécie não vai conhecer suas novas gerações, e vice-versa. Se vocês não se conscientizarem, vamos nos tornar figuras do passado e existiremos somente na memória de quem possa, por ventura, ter nos conhecido.
Seremos como os dinossauros, mas com um processo de extinção desencadeado de forma diferente, eles naturalmente e nós, com a “ajuda” de alguns de vocês.
O ar já está quase se acabando nesta caixa e o cheiro dos corpos de meus pais já não é mais o mesmo, meus irmãos estão ganindo de sofrimento, quase não tenho forças, mas meu apelo deve continuar. Como eu já disse, não por mim, porém pela minha espécie e pelas outras tantas em extinção. Só para vocês terem idéia, na minha região, o número de espécies mamíferas em extinção está por volta de onze.
Paramos. A meu ver, chegamos ao zôo. Estou eu com dois dos meus irmãos mortos pela fome e pela escassez de ar na caixa.
Vejo várias outras espécies dentro de jaulas, maiores que meu caixote, mas, mesmo assim, as suas faces de desgosto e tristeza não se diferenciam da minha e da de meus outros dois irmãos, quase morrendo.
Antes, meu pai já havia falado do zoológico. Ele me disse que havia tanto animais da natureza quanto os nascido em cativeiro.
Agora que vejo como é isso na realidade, entendo o que meu pai disse e tenho pena de mim e dos outros animais, por estarmos aqui, e mais pena ainda dos nascidos em cativeiro, pois nunca sentiram o gosto da liberdade.
Com meu último suspiro, peço que pensem em tudo o que escrevi, pois sem vocês não somos nada, e vocês sem a natureza também serão extintos.

Sinceramente, talvez, até nunca mais.
Lobo guará

sábado, 27 de junho de 2009

Anatomia do ciúme


Inversamente refletida nas retinas
A imagem daquele beijo ardente
Beijo dado entre os dois amantes
No qual os músculos dos lábios eram incessantes

Por meio de um nervo óptico
Tal imagem se codificou no cérebro
E dele saiu a mensagem
Contraíam-se outros músculos

Primeiro glândulas oculares
Expeliam o líquido lacrimal
Depois uma queda nos sentidos
E baixa na temperatura corporal

Após essa série de sentimentos
Um único comando trafega pelos nervos
Músculos retraíam e relaxavam
Um metal frio em contato com os dedos

Por mais certeiro que fosse
Não mais estaria certo
Por ver o amor acabado
Sentiu a morte ali perto

Assim de três fluíam
O viscoso líquido coagulado
Com seu único tom avermelhado
Cessando seu bater, o músculo cardíaco, estilhaçado.

segunda-feira, 22 de junho de 2009

A acre decisão


Seria como nascer-me novamente
Ver dessa terra brotar nova água
Saciar-me a sede e esquecer dessa mágoa
Que nos resseca o coração e a mente

Mas, hoje, nunca se vê comumente
O belo arco-íris é cinza chaga
A terra vermelha é igual a uma frágua
(Fornalha que nos ferve, engana e mente)

Invisíveis nuvens no azul do céu
Invisíveis rios no vermelho chão
Ensinam tomar a acre decisão

De fugir assim, como foge o réu
Correr assim, como corre o corcel
De tomar um prumo sem direção

domingo, 14 de junho de 2009

Anansi


Uma aranha tecelã
De tecer teias cansada
Subiu ao céu e a ele pediu
— Quero ser dono de suas histórias

Seu desejo seria concebido
Com a seguinte condição
Que vencesse os inimigos
E as três piores almas são:

O leopardo de dentes afiados
Que gostava de jogar
O qual Anansi venceu
Ao seus pés ele amarrar

Também, a víbora que engolia
Numa bocada só a humanidade
A qual Anansi venceu
Atiçando sua vaidade

O último era a vespa
E como fogo era sua ferroada
A qual Ananci venceu
Com a cabaça alagada

Por fim a Nyame levou
As marcas de sua vitória
E do Deus do céu ganhou
O poder de contar histórias

domingo, 7 de junho de 2009

O Breu


A noite bateu
De sua toca sai o breu
No silêncio, madrugada
Engole o dia até o nada

E em seus ramos à beira estrada
Preso pelas próprias pernas
Um filhote de pinheiro
Que pela luz ainda espera

E a cada carro que passa
Cada luz que lhe clareia
Aumenta-lhe a alegria
Que escorre da mão feito areia

Engolido novamente
Pelo breu, ali, voraz
Fica então a espera da luz
Mesmo que esta seja fugaz

Viu ao longe um vaga-lume
Que lutava contra o breu
Sua luz intensa e verde
No escuro se perdeu

Mas após reaparece
Mas o breu não desistia
A cada rajada de luz
Ele ia e a esquecia

E, por fim, ao longe, monte
Viu um raio resplandecente
Ele que como um rei
Nasce imponentemente

Todos riram do medo
Viram o breu sair correndo
E o pobre pinheirinho
Chorou com o sol ali nascendo

sábado, 30 de maio de 2009

Dois rios de encontro ao mar


Dois rios cortaram minhas maçãs
Foram descendo até o queixo
Encontraram-se e caíram em cascata
Molhando-me o peito
E não cessava de jorrar
Como uma enxurrada que tudo leva
Que tudo lava
E não cessava de jorrar
Era um poço infinito
Que alagava de súbito
O meu triste chorar

Dois rios de encontro ao mar
Desciam e curvavam
E em cada curva deixavam
Um reflexo do meu chorar
E não cessava de jorrar
Como chuva que desce e leva
Que desce e lava
E não cessava de jorrar
Era um choro imundo
Era o choro do mundo
Em um só chorar


Dois rios estancados
Ainda corria em filetes
E deixavam em meu rosto
Marcas do seu passar
E cessou-se o jorrar
Com tua boca aveludada
Teu cheiro de avelã
E cessou-se o jorrar
Era eu e o teu humor
Era o teu amor e eu
Acabando com meu chorar

domingo, 24 de maio de 2009

O Cânion


O amor é um precipício
Que se abre sempre quando
Você decide amar
Qualquer outro ser humano

De um lado desse cânion
Está você sempre indeciso
Do outro lado está aquela
Que lhe rouba o juízo

E você vai se esvaindo
O juízo acabando
Um zumbi sem alma alguma
Sempre a um lado marchando

Até que chega um momento
Que você corre na direção
Daquela linda garota
Que roubou-lhe o coração

E na beira do precipício
Vê seu corpo se jogando
Caindo de cara num amor
E no chão se estatelando

E então perceber
Que aquele amor era irreal
Não valia o seu amar
Era o mar sem o próprio sal

Porém também existe
Neste cânion um lado bom
Só depende dos extremos
Para juntar dois em um coração

E é um trabalho difícil
Quase sempre alguém desiste
De construir uma ponte
Para o amor que ainda existe

segunda-feira, 18 de maio de 2009

Vou amar-te em Marte


Vou a Marte
Conhecer os marcianos.
Como as mulheres são de Vênus
Se os homens são humanos?

Vou amar-te
Pois só isso, sei fazer
Ou de ônibus ou de táxi
Irei aí pra te ver

Vou a Marte
E lá irei viver
Se existe vida em Marte
Com certeza irei saber

Vou amar-te
E para sempre te amarei
Ou aqui ou em Marte
Ao teu lado seguirei.

domingo, 10 de maio de 2009

Querer não é poder


Queria eu estar ao lado de minha amada
Para no seu ouvido falar das cores da alvorada
Ver ela se deslumbrar com palavras adocicadas
E ver o seu olhar enxergando o céu e nada

Queria eu estar no lugar que sempre quis
Para nele eu tentar por em prática meus ardis
Ver ele começar na vida que eu fiz
E ver ele acabar com um final feliz

Queria eu estar, lá na lua, sozinho
Para ter todos os astros como meus vizinhos
Ver a Terra inteiriça num único pedacinho
E ver estrelas cadentes seguindo o seu caminho

Queria eu ter tudo aquilo citado aqui
Mas perdi o meu amor quando me decidi
Ir para o lugar onde sempre quis ir
E assim sozinho estou sem ninguém, sem ti

domingo, 3 de maio de 2009

O ladrão de livros


Estava eu no centro da praça
Sob árvores verdejantes
Enredado em folhas dançantes
Preso a leituras inanimadas

Estava eu com poesias
Lendo a vida em linhas de versos
Vendo eu no meio do universo
Como alguém engrandecido

Era eu quem ali estava
Com meu livro entre as mãos
Mergulhado na contemplação
Da leitura dos poemas

Estava eu ali sozinho
Até um dito momento
Pois ao redor estava sedento
Um encapuzado ser

Estava eu ali com medo
E em minhas mãos só o Pessoa
E pra mim, olhava, a pessoa
Como quem algo queria

Sem nada, eu ali estava
Não tinha nada a oferecer
Só tinha o que me fazia crescer
Dei-lhe o livro em troca da vida

Estava ele ali, ignorante
Nem tinha idéia do que queria
O que dessem, lucro seria
Pois nem a vida mais ele tinha

Estava eu fugindo assustado
E caído no chão o livro
Deixado ao relento com um amigo
Aquele que antes era ladrão

Estamos nós hoje sentados
Sob a mesma árvore do acontecido
Ascendendo como grão de trigo
Que germina e dá frutos.

domingo, 26 de abril de 2009

O poeta ou o cão


Conversava com um cachorro
Como quem conversa com gente
O cachorro o olhava
Como quem olha parede

Um olhar penetrante
De companheiro fiel
Um falar atordoante
Da abelha que produz fel

Um falava de sua vida
De seus fatigados dias
O outro olhava para a vida
Como o poeta Gonçalves Dias

Um olhava o horizonte
E o via além dele
O outro falava do horizonte
Como se o limite fosse ele

Este falava com palavras
Que nem ele mesmo entende
Aquele olhava com olhares
Que a todos surpreende

Um olhava a natureza
E a mostrava como em aulas
O outro falava suas belezas
E tentava demonstrá-las

Um queria ser poeta
Mas não fazia por merecer
E o cachorro, coitado,
Era um poeta sem saber.

domingo, 19 de abril de 2009

Auto-antropofagia

(este poema é para aqueles que se maquiam e se mascaram escondendo o que na verdade são, ou seja a todos os seres humanos)




Duas pessoas dentro de um corpo
A que eu sou e a que eu quero ser

Enquanto esta eu conheço bem, pois moldo ao meu favor
E é a que você vê, já que a mostro explicitamente

Aquela ninguém nunca viu, uma vez que nunca a mostrei
E nem mesmo eu nunca vi, porque já a escondi de mim mesmo

Sofro esta luta interna
Meu corpo é um terreiro para rinchas de galo

No fim a que eu quero ser
É a vencedora final

Mas aquilo que eu sou
Está guardado dentro de mim, como fera enjaulada

E quando as grades enferrujarem
Até eu temo em nisso pensar

Não sei o que será daquilo que eu quero ser
Acho até que vou me auto-antropofagiar

segunda-feira, 13 de abril de 2009

Era, o mundo, original




Houve eras antes da nossa,
era em que o novo era novidade.
Era o novo se fazendo presente,
O Original era verdade.

Houve eras em que cientistas
por suas teses brigavam.
Hoje eles nem existem,
as teorias se concretizaram.

Houve eras que quando falavam
ninguém no mundo havia falado,
Quando o discurso era direto
e pelo Original estavam fadados

Mas as eras se passaram
(Até que enfim a nossa era)
Onde eu falo um discurso mastigado
Que mastigam ao ser passado

Somos seres ruminantes
Nem digerimos informações
Numa era em que o F5
Atualiza nossas razões

Uma era baseada, derivada
Foram-se as eras primitivas
Somos apenas citações
De outras eras, advindas.

terça-feira, 7 de abril de 2009

Entre




Entre a camada de ozônio e o núcleo fervente
há o planeta Terra
Entre o fio de cabelo e a pele morta dos pés
há um ser humano
Entre o ventre e o túmulo
há uma vida inteira
Entre o nascer e o pôr-do-sol
há um dia para se aproveitar
Entre um teto quente e um chão gelado
há uma humilde casa
Entre a primeira página do gênesis e a ultima do apocalipse
há o maior livro do mundo
E entre eu e você
só o amor, o amor mais profundo.

quinta-feira, 12 de março de 2009

Lendo livros


Numa biblioteca mundial
Pelos corredores ando
Vendo capas pretas sujas
Vejo capas brancas, santos

Vejo capas com musgo verde
E também com véus e babados
Vejo capas lisas e simples
E também com adornos dourados

Mas de tanto ver as capas
E de tanto jogá-las fora
Nunca vi seus conteúdos
Nunca ouvi suas histórias

Via a capa e julgava
Vi o físico e julguei
Mas quando li suas linhas
Quando senti, da vida, um tapa
Passei a me julgar
Por julgar um livro pela capa

segunda-feira, 26 de janeiro de 2009

O Código de Hamurábi


Aqui, todos me respeitam
E todos eu respeito

Aqui, todos me odeiam
E todos eu odeio

Aqui, todos me cumprimentam
E todos eu cumprimento

Aqui, todos me respondem
E a todos eu respondo

Aqui, todos são inimigos
E com todos tenho inimizade

Aqui, tudo é proibido
E a tudo não se dá liberdade

Nesta vida de olho por olho
Nem dente de alho
É menos doce que eu

Nesta vida cercada de molhos
De molhos de chave
Duma colméia sem mel

Uma vida, em que o sol nasce
Nasce quadrado
No quadrado do céu

domingo, 18 de janeiro de 2009

Tudo é relativo




Einstein a teoria da relatividade escreveu
E provou que gosto é que nem umbigo
Já que cada um tem o seu.

Mas será que ele pensou
No quanto essa teoria abrangia
Exemplos eu dou
Sem nenhuma tardia:

Conheci uma garota que falava espanhol
Ou pensava que hablaba,
Tava mais pra portunhol.

Quem deveriam contratar
Perguntaram a uma mãe-coruja
Sem ao menos pensar
Indicou seu filho de cara suja.

Quando enfim morreu o Sol
Vi ficar vermelho o mar
Em outra parte do globo
Ele nasceu ao céu dourar.

Pontos minúsculos de intensa luz
Estas estrelas pelo céu a vagar
Porém entre elas existem
Várias maiores que o sistema solar.

Agora vai uma pergunta
Para com os exemplos acabar
Eu não gostei deste poema
E vocês? O que vão achar?

segunda-feira, 12 de janeiro de 2009

Diferenças, amizades


Eu, por democracia, luto
Mas, amigo de um ditador, sou
Eu, contra escravidão, luto
Mas, amigo de dono de carvoarias, sou
Eu, contra corrupção, luto
Mas, amigo de corrupto, sou
Eu, em Deus, acredito
Mas, amigo de ateu, sou
Eu por nenhum time luto
Mas, amigo de torcedor fanático, sou
Eu, de literatura, gosto
Mas, amigo de analfabeto, sou
Eu, para contabilidade, nem ligo
Mas, amigo de contador, sou
Eu, com o mundo, me importo
Mas, amigo de egocêntrico, sou
Eu, contra o desmatamento, luto
Mas, amigo de madeireiro, sou
Eu, contra poluição, luto
Mas, amigo de dono de petrolíferos, sou

Mesmo sendo diferente
Mesmo por idéias contrapostas
Posso ser amigo até
De quem, de mim, não gosta

segunda-feira, 5 de janeiro de 2009

O poço seco


Numa manhã de domingo
Vi o sol acordar dormindo
Vi a manhã nascer em escarlate
Vi, para poesia, um tema lindo

Sentei na frente de um papiro
Com minha pena de pavão
E um tinteiro logo ao lado
Pus ali minha imaginação

Uma gota de tinta caiu
E só ela sujou o papel
Por mais que eu tentasse escrever
As palavras fugiam de corcel

Que galopava para o longe
Fugiam da obrigação
Eu corria atrás delas
Com os pés a frente das mãos

De tanto correr
Acabei por chegar
Num oceano de areia
E nada tinha para a sede matar

Pensei em usar a pena
Para, um poço criar, naquele deserto
Logo pedras se amontoaram
E vi a esperança ali por perto

Quase pulei dentro do poço
Quando por fim o vi, repleto de vazio
Era só um poço seco
Era como um destino vil

Tão vil quanto sereias
Que atraiam apaixonados para o mar
Que após atraí-los
Só queria os matar

Foi o que aconteceu com as palavras
Que me atraíram para o deserto
Agora que aqui estou
Só resta morrer, de certo

Foi quando eu retornei
Pensei no que havia feito
Decidi contar essa história
E criei o poema perfeito