Olá pescadores de plantão agradeço por passarem aqui no meu Lago dos Sonhos e peço pra que, se possível, vcs deixem comentários sobre os textos, afinal sem eles naum terá como eu saber se estão ou não gostando do blog.


Também se puderem, deixem seu e-mail para q eu possa agradecer os comentários e a visita.


Bjus e espero que gostem


ASS: Pescador de Sonhos



segunda-feira, 25 de março de 2019

Uma droga chamada amor


Se encontravam já há um tempo. Diriam que formam um belo casal, caso tivessem amigos em comum. Mas não, sempre vinham só e, ainda que fizesse certo tempo que se encontravam, talvez pensassem que ainda não era o momento de cada qual penetrar a bolha do seu parceiro.

Ainda assim eu diria isso. Ele sempre acalentado, recebendo ela no taxi, sempre com um abraço apertado que se soltava com sua mão deslizando pelo ombro. Ela sempre sorrindo ao vê-lo, descia quase sempre desesperada do taxi, talvez a vontade de estar com ele era grande, tanto que minutos depois do abraço ficava calma e numa alegria contagiante.

Vinham a mim pedindo sempre a mesma mesa, ali sentavam, trocavam conversa até o garçom os atenderem, faziam os seus pedidos, trocavam olhares, trocavam carícias, eram felizes.

Os meses foram passando e a rotina seguia sempre a mesma, uma ou outra vez fora bem diferente, pude perceber q havia dias em que havia desentendimento entre eles. A moça, nervosa, não dava espaço para conversa, para troca de olhares, não cheguei a notar a época, mas devia estar naqueles dias. As poucas vezes que isso aconteceu o encontro durava pouco, mas sempre no dia seguinte se encontravam novamente e a rotina seguia perfeita desde a descida desesperada, afogada no abraço até a saída regada a vinho.

Percebi que conforme o tempo passava seus encontros foram se tornando cada vez mais frequentes e a necessidade de ver seu par parecia aumentar na moça. Era como se ele fosse a droga que lhe faltava, um amor que aumentava a cada encontro.

Realmente era até bonito de se ver, queria eu um amor assim.

***

— Hoje você vai encontrá-la de novo?

— Sim, ela tem ligado com frequência pra mim. Acredito que esteja funcionando.

— Pelo que me conta, só pode ter funcionado. Não acredito até agora que ela não percebe os adesivos.

— Sleight of hand, meu caro. Colocar o adesivo é molesa, algumas das vezes posso ter perdido a chance, mas agora com a prática consigo sempre. Ainda acho que tirar ele é o mais difícil, mas agora que jah chegamos na quarta base toda vez que se vira para que eu tire seu sutiã, aproveito para aih, eliminar as provas -- disse piscando o olho para seu amigo que solta uma gargalhada e diz:

— Cara, se não te conhecesse tão bem, diria que você é um psicopata.

— Psicopata eu? Não, só sou um farmacêutico com um estoque ilimitado de adesivos de nicotina bem concentrados, testando uma hipótese. Não tenho culpa  de ela estar funcionando, nem dos frutos que tenho colhido disso.

quinta-feira, 8 de outubro de 2015

VIVER

Respirar não é viver

respirar é estar vivo
e estar vivo não é viver

Viver é além...

é abusar do fato
de estar vivo

é o entre
sem fim nem começo

pois quando se sabe que vive
muito já se viveu

e viver não acaba...

estar vivo talvez, mas viver é eterno

já que viver é o simples
não saber se está vivo

Viver é esquecer que respira

e quando não mais
não importa

pois a muito já se esqueceu disso

quarta-feira, 20 de maio de 2015

Sorriso de Lua

Hoje o céu estampava um sorriso de lua
Olhei
Sorri
e me fechei em pensamento

Ela até sorria
mas onde estavam os olhos
de um sorriso sincero
Onde estavam as maçãs coradas
daquele sorriso meigo
Onde estavam os dentes
do sorriso escandaloso
Onde estavam suas covinhas?

Hoje a lua sorria
e ainda que eu quisesse acompanhá-la
as faltas de motivo me assombravam
como o sorriso rasgado
de um Cheshire-cat

terça-feira, 4 de fevereiro de 2014

Espírito de Natal


***

Se alguém está lendo esta carta provavelmente a corda de sisal já segura o meu corpo, talvez já roxo e nos primeiros estágios de decomposição, dependurado no quartinho de bagunças de casa, mas quero dizer que se estou assim mereci isso.
Não que o fato de eu ter merecido vá amenizar qualquer dor que vocês possam vir a sentir no período de luto, mas gostaria de me desculpar com meus familiares e amigos pela minha decisão, tomada entre prantos e soluços das mais amargas culpas que pude sentir nesses meus vinte e cinco anos.
E nem me atrevo a esboçar desculpas para a pobre menina Bianca e sua família. A única coisa que queria era voltar com o que fiz, queria ter sabido antes os resultados de meus atos, mas fui pego numa armadilha do destino e quem pagou foi você anjinho. Viver sabendo o que poderia ter feito para impedir tal fim seria um peso muito grande pra alguém como eu.
Não sei o que a justiça divina preparou para mim, a partir do meu ultimo suspiro exasperado pela falta de ar, mas quero só dizer que vivi da maneira que pensei ser a melhor, sempre buscando fazer o bem a todos. Se esse foi o meu erro, padeci dele e por ele padeceu cedo e cruelmente essa que muito tinha pra fazer nesse mundo.
Sem mais, espero que a minha partida não cause tanta tristeza para vocês.

***

“Essa noite infelizmente o Papai Noel terá uma casa a menos para visitar na cidade de Araraquara.
Na manhã de hoje o corpo de Bianca Andrade, 5 anos, foi encontrado nos banheiros da rodoviária da cidade com sinais de abuso.
A família da menina, que mora nas redondezas da rodoviária acionaram a polícia na tarde de ontem devido o desaparecimento da menina, que estaria brincando no quintal de sua residência até ser dada como desaparecida.
A polícia está investigando o local à procura de uma botinha rosa que não estava junto do corpo da menina. Eles acreditam que ela possa ajudar a encontrar o assassino.

O casal não quis dar nenhum depoimento sobre o caso”

***

— Paulo, c tah aih?

to sim :) —

— como sempre, com o chat desligado neh?

ah c sab cara, não gosto de ignora as pessoas quando elas querem conversa, estando offline poucos entram em contato LOL —

— bicho besta, c num quiseh conversah é soh falah =P

=P —
tava querendo fala com vc mesmo —

— LOL, então fala

o que vocês estão pensando em faze esse fim de ano? —

— ah ainda não sei, o povo aqui tah numa frescura ¬¬

LOL —
mas vcs vão fazer algo neh? —

— vamo sim, soh tem q v u q

ah, então não me esquece de avisa quando decidirem —
esse final de semestre ta bem cansativo, não vou conseguir chegar em sampa antes do dia 20, muita coisa ainda pra faze —

— sei
— mas c vem neh?

só vo pra passa o final de semana :( —

— q???????????
— e o natal? vai passah longe da família? seus pais jah tão sabendo?

pois é :( —
ja conversei com eles ja —
estou atrasado com uma papelada do projeto e acho q não consigo termina antes da última semana do ano, e se eu fica ai, me conhecendo bem, não vou escreve nada =P —
LOL —

— =P
— mas falta muito?

e quanto —
uma colega minha pediu pra ajuda com a mono dela, dei uma olhada na formatação e tava tudo fora da ABNT, tive que reformata tudo, fora os erro de gramática —
da até vergonha desse povo de exatas que num sabe nem escreve LOL —

— oh quem fala senhor “os erro de gramática” kkkkkkkkk

uhsuhsuhsuhsuhsuh, mas eu to escrevendo no fb neh, monografia é outra história LOL—

— sei ¬¬
— LOL

mas então —
no fim, fiquei quase três semanas arrumando a mono dela e isso me tomou bastante tempo ushsuhsushushuhs —

— mas c é burro mesmo ein
— pelo menos comeu?

nem LOL —

— falo nada ¬¬

uhsuhsuhsuhus —

— num sei pq c é desse jeito, eh tão difícil assim falah não? C jah tava lotado de coisa pra faze.

ah cara, a moça é bem legal, não queria decepciona ela —
e tbm foi bom, ajudei ela e relembrei algumas regras de citação =) —

— ¬¬
— e eu num quero nem lebrah LOL

LOL —

— hoje a gent tah vendo d i come japonês

ah q legal cara —
q pena q não vou pode ta ai com vcs :( —

— num tah pq num queh neh =P
— nem sei pq c quis ih pro interioRRRR, em vez de ficah pra k

ih!!! la vem vc d novo —
ushushushushush —

— =P
— Mas eh verdade cara, tah fazendo falta jah.

ahhhh :`-( —
acho q dia 20 eu to pegando o ônibus, dai a gent reúne a turma pra faze o que quer q vcs tenham combinado =) —

— Blz então

ow o papo ta bom mas eu vou saindo —
corre la no instituto pega uns papeis —

— vai lah então
— a gent c fala

blza, falou —

***

— o sumido, num volta nunca nao?

eae Rose —
ah ta complicado ein —
como ta ai? —

— tudo certo =)
— mas e ai, o Jo falo q c vai vim so semana que vem, e verdade?

e pior q é :( —
to enrolado com umas coisas do projeto q faço parte -.-‘ —

— e, ele tinha falado algo assim, q pena :(
— esse final de semana a gnet tava conversando d ir no cinema, ja chego ai o Hobbit?

lógico q ja ne =P —
te ja assisti —
ushushushushsuh —

— a vai sab neh, dizem q as coisas são atrazadas aih no interiorrrr LOL

kkkkkkkkkkkkkk —
c não presta mesmo LOL —

— mas entao, saindo do assunto completamente
—c conseguiu aula d alemao ai na facu, ne?

é sim, o orientador do meu grupo de projeto conseguiu abertura pra gente faze aula no campus junto como povo de letras, acredita q de letras só tem três alunos na sala? ushsuhsuhsuh—
como o único grupo que trabalha com o composto que estamos trabalhando é alemão, além do nosso projeto incipiente, a maioria dos trabalhos relacionados estão nessa língua, então as aulas estão ajudando um pouco, mas um ano não é muita coisa —

— U.U ZzZzZ
— LOL

kkkkkkkkkkkkkk —
mas então, pq vc entrou nesse assunto do alemão —

— nao, e q eu comecei a ouvi uma banda q canta em alemao, gostei bastante do som deles, mas nao entendo nada do que eles falam =P

ah, não sei c da pra t ajuda, afinal eh só um ano de aula né, mas c quiser eu posso tenta traduzi algo pra vc —

— c faria isso? =3

 faço sim, só me passar a letra que vejo o q consigo faze —
mas não prometo nada viu —

— oh taqui
— mas nao precisa ser pra tao logo, quando de c faz

blza, assim q consegui um tempo eu vejo o q consigo faze —

— tah certo, vo cobra ein =P
— LOL

pode cobra =D —

***

Rose, achei muito bacana a banda e a música q vc passou é bem triste :/ —
minhas habilidades com alemão não estão tão boas pra traduzir, mas deu pra eu entende alguma coisa, então vou t falaro q entendi em vez de traduzir tah? —
bem, a música fala de alguém que perdeu uma pessoa querida e sente muito a falta dela. Tanto que ela ainda vê essa pessoa por onde ela anda—
Tem uma frase que repete várias vezes: “Dein Wielle geschehen, nie mehr”
q eu traduzi como: “Que sua vontade seja feita, nunca mais”—
Pra mim a dor dele é tanta que ele culpa até Deus por isso, já que ele usa essa frase religiosa e depois nega ela em seguida—
nem consigo pensar como é essa dor, não sei o q faria se tivesse que aguentar uma dor como essa :´-( —
de todo modo é uma música muito linda —
bem já está tudo certo, amanhã eu pego o ônibus de madrugada pra chegar aih antes do almoço, a gent conversa mais um pouco depois =) —

***

Álbum de fotos intitulado “Os melhores nos melhores lugares”

FOTO 1
Um grupo de 4 jovens em uma pizzaria, duas garotas e dois garotos. Todos sorrindo. Uma das cadeiras vazias, provavelmente a do “fotógrafo”. Uma garrafa pet de coca cola vazia e outra pela metade sem nenhuma pizza ainda na mesa. O fundo sugere que estão numa especie de terraço ou varanda da pizzaria, por dar a sensação de céu aberto. Um dos cantos da foto tem uma mancha escura que parece ser a ponta do dedo do “fotógrafo”.

Tagueados na foto: Joel Marcos Oliveira (Tag no rosto do garoto de camisa verde no lado esquerdo da foto); Melissa Gory (Tag no rosto da moça vestida de azul próxima ao anterior); Rose Lins (Tag no rosto da moça de preto); Gustavo Ribaldi (Tag no rosto do rapaz de cabelos longos vestido também de preto); João Paulo Terada (Tag na mancha escura no canto da tela)
Legenda da foto:   E essa pizza que nunca chega?
                                         há 2 horas · Curtir
Comentários da foto:
Melissa Gory Se oferece para tirar as fotos e não sabe tirar nem o dedo da frente da câmera =P LOL
há 15 minutos · Curtir
João Paulo Terada Queria sair na foto sushushushushu
há 14 minutos · Curtir
Rose Lins Foto linda, amo vocês. Você mais Gustavo
há 5 minutos · Curtir
Gustavo Ribaldi :*
há 2 minutos · Curtir

FOTO 5
Duas pessoas sentadas na sarjeta abraçadas de frente para a foto: uma delas um jovem, sorridente, parece ser descendente de asiático, bem vestido; a outra um senhor com um leve sorriso, maltratado, roupas sujas. Ambos mostram juntos três pedaços de pizza sobre alguns papéis-toalhas. O fundo da foto mostra levemente um pedaço do suporte da varanda da pizaria.

Tagueados na foto: João Paulo Terada (Tag no rosto do garoto asiático)

Legenda da foto:   Orgulho do seu coração Paulo
                                         há ± 1 hora · Curtir
Comentários da foto:
Rose Lins Confesso que fiquei com medo :/
há 8 minutos · Curtir
Maria Terada Que filho lindo eu criei ...
há 6 minutos · Curtir
Joel Marcos Oliveira Ai meu Deus, medo de que Rose?
há 6 minutos · Curtir
João Paulo Terada Ah gente o cara só tava com fome :/
há 5 minutos · Curtir
João Paulo Terada Obrigado mãe :)

há 5 minutos · Curtir

FOTO 10
5 jovens abraçados para uma foto em conjunto. Da esquerda para direita vemos uma moça de azul com um dos braços esticados segurando a câmera e fazendo biquinho, um rapaz de verde com um dos braços em volta do pescoço da moça anterior, uma moça de preto e cabelos longos de lado e de costas com o rapaz anterior dando um beijo no rosto do rapaz também de preto, com cabelos longos, sorridente e fazendo chifre com uma mão deitada em frente o peito, e com o outro braço abraçando a moça anterior e o quinto, abraçando o rapaz anterior um garoto de branco, traços asiáticos, sorridente e com metade do corpo cortada da foto.


Tagueados na foto: Joel Marcos Oliveira (Tag no rosto do garoto de   camisa verde); Melissa Gory (Tag no rosto da moça vestida de azul); Rose Lins (Tag no rosto da moça de preto); Gustavo Ribaldi (Tag no rosto do rapaz de preto); João Paulo Terada (Tag no rosto do rapaz que saiu cortado)
Legenda da foto:   Um ano c passou e conseguimos estar os 5 mais uma vez juntos. Matando a saudades do Paulo LOL
                                há 35 minutos · Curtir

Comentários da foto:
Rose Lins Foto linda, adorei a noite hoje pessoal
há 20 minutos · Curtir
Melissa Gory Linda mesmo, foi eu quem tirei =P
LOL
há 17 minutos · Curtir
Gustavo Ribaldi Nuss 6 já tão online já?
há 10 minutos · Curtir
João Paulo Terada Ta linda mesmo, só sai meio cortado =P
há 5 minutos · Curtir
João Paulo Terada Amanhã vou embora, mas já to com sdds de vcs hoje :/
há 4 minutos · Curtir
Joel Marcos Oliveira Não tem como ficar mais um dia Paulo?
há 2 minutos · Curtir
João Paulo Terada Pior que não, já comprei até passagem :/
há ± 1 minuto · Curtir
Melissa Gory Piorrrrrrr q não LOL
vai lah Paulo, e volta mais cedo dessa vez
há ± 1 minuto · Curtir
Joel Marcos Oliveira então vai cara, e volta ein
há poucos segundos · Curtir

***

Mãe
Mae teve um problema no onibus e vou ter que descer em São Carlos. Vou pegar um onibus suburbano aqui q e mais barato e ja ta p\ chegar quando chegar t ligo bj

***

“Foi encontrado hoje o suspeito de ter matado a menina Bianca Andrade encontrada morta na manhã da véspera de Natal.
O assassino foi encontrado essa manhã nos arredores da rodoviária da cidade. Houve algumas reclamações de pessoas da rodoviária em relação ao fato de José Honório, o nome do assassino, estar incessantemente pedindo dinheiro nas lanchonetes além de sempre faltar com respeito com as mulheres do local e quando a polícia foi averiguar o caso encontrou José, na sarjeta onde passava a noite e entre os seus pertences estava o calçado de Bianca, que não foi encontrado junto ao corpo.
Segundo alguns motoristas no local da apreensão, José Honório é um mendigo da cidade de São Carlos e veio para Araraquara no dia 23, dia em que a menina foi dada como desaparecida, num ônibus da frota Paraty. Apesar da maneira grosseira do mendigo, ninguém levantou suspeitas da relação dele com o caso da morte da menina.
Agora veja as cenas da apreen...”
[Estática e TV chiando]

***

— Quanto é a passagem moça?
— Pra Araraquara? — Paulo afirma que sim com a cabeça — quatro e vinte.
— Obrigado — Paulo senta próximo à cobradora.
O motorista entra e logo dá a partida.
— Está voltando para a casa pra passar o natal com a família? — a cobradora pergunta.
— Pior que não — faz uma cara triste — estou voltando de casa, passei o final de semana com eles, muita coisa pra fazer ainda na última semana do ano — ri leve e forçosamente.
 — Entendi, que pena
— Pois é.
A conversa terminou simplesmente com isso e o ônibus continuava, já quase na saída de São Carlos. No último ponto da cidade entrou um senhor maltrapilho e se sentou nos bancos preferenciais, a sua aparência maltratada insinuava uma idade avançada,  percebia-se contudo que ele ainda não tinha mais que sessenta anos, mas ninguém ligou de ele sentar ali. O garoto percebeu que o homem tinha certos tiques no ombro e apesar de não gostar muito de reparar nas pessoas passou algum tempo fazendo isso e sentiu pena daquela pobre alma.
Depois se desligou um pouco do momento e passou a seguir viajem sem tirar o olho da vista que sua janela proporcionava, mesmo sendo de cidade grande ele aprendeu a apreciar o interior e as belezas com as quais o simples olhar pela janela de um ônibus suburbano e de poltronas lastimáveis podia lhe presentear.
As nuvens passando faziam Paulo, sem motivos algum, se lembrar do maravilhoso final de semana que teve com seus amigos, ainda que fizessem ele de gato e sapato, cada um dos quatro eram seus grandes amigos. Podia ser que Joel fosse o seu maior companheiro, aquele com quem ele sabia que podia contar sempre, mas Paulo gostava muito da companhia de todos os quatro.
O ônibus seguia o seu rumo, chegando rápido em Ibaté onde a cobradora decidiu perguntar ao senhor que entrara em São Carlos onde ele iria descer.
— Eu desço em Araraquara dona — ele responde com uma voz um tanto emudecida ainda que direta, seu jeito era grosseiro, mas Paulo sentia certo ar de cachorro açoitado vindo do mendigo.
— Então é melhor você passar a roleta, c vai demorar pra sair, vai sentar lá nos bancos do fundo — Disse a cobradora no tom rude do preconceito, pelo menos o tom percebido por Paulo.
O homem continuou sentado por alguns instantes, com todos os olhares dos passageiros voltados a ele com desdém, a pressão no ar parecia ter aumentado em torno do homem, um momento de tensão pairava. Nisso, com uma voz mais emudecida ainda e menos direta que da próxima vez, quase entre dentes, como se não quisesse ser ouvido.
— To sem dinhero dona.
— OI?! — Faz uma pausa esperando respostas, vendo que esta não vinha decidiu ser mesmo isso, o que ela ouviu — Kleber, para o ônibus que tem um sem dinhero quereno i pra Araraquara.
— Pará o ônibus? — o motorista diz isso já trocando as marchas e  parando lentamente — Pode descer  fala para o homem ainda sem soltar a direção.
O homem começou a implorar para a cobradora não deixá-lo ali, chegou a falar que ele conseguiria o dinheiro e daria ele pra ela no dia seguinte, mas em vão. Foi quando o motorista levantou para arrastar o homem pra fora, ajudado pela gritaria dos demais passageiros dizendo que aquilo estava atrasando a viagem e tudo mais, que Paulo se levantou.
— Não precisa pô-lo pra fora, eu pago a passagem dele.
— Você não precisa fazer isso, garoto. Ele é só um mendigo, certeza que tah indo pra Araraquara pra pedir dinheiro por lá.
— Não, eu faço isso por que eu quero mesmo, afinal logo mais é Natal, cadê o Espírito natalino de vocês? — disse isso com um sorriso no rosto.
— Tá certo então, pode passar a roleta mas vai sentar lá no fundo como eu tinha falado antes.
O homem passa e agradece Paulo com o olhar, não querendo tocá-lo por conta da roupagem suja. Paulo respeitando a decisão do homem, responde com um sorriso e volta a sentar tirando o dinheiro para entregar para a cobradora.
Depois disso a pressão de antes passa a se esvair e o ônibus retorna a sua viagem para Araraquara, o homem ficou sentado no fundo do ônibus quieto e com seus tiques no ombro. Como não estava mais na vista de ninguém os olhares de desdém não mais o  procuravam.
Paulo voltou para o que fazia antes, agora um pouco mais feliz consigo mesmo, estava orgulhoso de sua boa ação só não sabia que aquilo custaria a sua vida e a de uma inocente.

quinta-feira, 23 de janeiro de 2014

Hoje as nuvens pareciam ondas

Hoje as nuvens pareciam ondas:
Ondas estáticas
feito as da foto tirada assim que a água invadiu a areia da praia,
mas da estaticidade das fotos nada tinham,
pois se moviam.
E moviam muito mais rápido que qualquer foto estática.
Numa lentidão imperceptível ao olhar,
mas se moviam,
pois uma a uma as estrelas sumiam
feito a areia da praia da foto amarelada
e eram elas levadas pelas lentas nuvens-ondas que avançavam noite-praia adentro,
mas ainda se ouvia o murmúrio delas tentando fugir da força d’água,
até enfim escaparem numa torrente luminosa
e morrerem soltando cada qual
seu último grito
de dor.

E assim de luto as outras choram
como meus olhos chuvosos sobre a estática foto da praia
onde não havia mais onda,
nem areia,
tão menos praia
só estáticas lembranças daquilo que não mais se move

segunda-feira, 2 de abril de 2012

Minha própria maldição


Procurei meu encosto poeta
E ele se foi
Dos canônicos aos undergrounds
E ele se foi
Na contemplação das coisas
E ele se foi
Nos fatos de minha simples vida

Exorcisou-se meu encosto poeta
Há anos não olho pras nuvens e vejo a areia azul se espumando com as ondas deste mar atmosférico
Há anos não vejo as serpentes gêmeas do rush noturno
Uma de um incandescente e sonoro vermelho a velozmente ir
E outra no seu singelo branco luzidio a vir

Há anos encosto poeta
Há anos sem sentir o prazer de ler aquilo que essas teclas que atraem os meus dedos escreveram
Mesmo que não minha alma, mas meu corpo a compôs

Há anos, meu encosto poeta, e justo hoje tomou meu corpo de mim
Justo hoje quando estou sem lápis, borracha
Sem a matéria-prima, que riscada pelo papel, deu à luz as obras de outrora
Justo hoje eu aqui, num quarto escuro amoitado, com uma leve penumbra a acariciá-lo
Penumbra formada em fronte meu rosto
Que num som de datilografia vai sendo levado, seguindo pixels incessantes a formar caracteres

Justo hoje, encosto poeta, tirou mim mesmo de mim
Pra com dígitos isso compor
Pra tão logo composto sumir
Atiçar a maldição de ser poeta ao acaso
A maldição de esperar que esse encosto poeta venha pra ir
Maldição de tentar escrever, para ouvir de dentro da sua mente, seu subconsciente afoito depois
[de procurar por todos os longínquos recantos dessa obscura massa cinzenta dizer
Que ele se foi

quinta-feira, 20 de outubro de 2011

Por mais que pensem ser eu

Por mais que pensem ser eu
Aquele que aqui tem escrito
Não sou nem fui outrora
Nem posso enfim o ser
Por mais que no fim se assine
Com um memorável nome de vidro
Não sou eu quem o possui
Nem fui nem posso ser
E se com ele se assina
Não é para pensarem ser eu
Mas para que quebre na língua da moça
Que diz ao amante me ter lido
Ao sofrer com cacos perfurantes
Que feriam a carne de seu céu
A cada fonema articulado
E se se assina é só por isso
Pois não posso ter nome algum
Já que nem carne nem osso eu tenho
O sangue não me rubra a pele
Pois nem sangue nem pele eu possuo
Sou só éter na mente daquele
Dono do nome de vidro
Éter volátil, furtivo
Que como nos últimos versos presente
Condensado em líquido fluido
Se esvai, se perde, se some
Como agora que se assina em vidro.