Se encontravam já há um tempo. Diriam que formam um belo
casal, caso tivessem amigos em comum. Mas não, sempre vinham só e, ainda que fizesse certo tempo que se encontravam, talvez pensassem que ainda
não era o momento de cada qual penetrar a bolha do seu parceiro.
Ainda assim eu diria isso. Ele sempre acalentado, recebendo
ela no taxi, sempre com um abraço apertado que se soltava com sua mão
deslizando pelo ombro. Ela sempre sorrindo ao vê-lo, descia quase sempre
desesperada do taxi, talvez a vontade de estar com ele era grande, tanto que
minutos depois do abraço ficava calma e numa alegria contagiante.
Vinham a mim pedindo sempre a mesma mesa, ali sentavam,
trocavam conversa até o garçom os atenderem, faziam os seus pedidos, trocavam
olhares, trocavam carícias, eram felizes.
Os meses foram passando e a rotina seguia sempre a mesma,
uma ou outra vez fora bem diferente, pude perceber q havia dias em que havia
desentendimento entre eles. A moça, nervosa, não dava espaço para conversa, para
troca de olhares, não cheguei a notar a época, mas devia estar naqueles dias.
As poucas vezes que isso aconteceu o encontro durava pouco, mas sempre no dia
seguinte se encontravam novamente e a rotina seguia perfeita desde a descida
desesperada, afogada no abraço até a saída regada a vinho.
Percebi que conforme o tempo passava seus encontros foram se
tornando cada vez mais frequentes e a necessidade de ver seu par parecia
aumentar na moça. Era como se ele fosse a droga que lhe faltava, um amor que
aumentava a cada encontro.
Realmente era até bonito de se ver, queria eu um amor assim.
***
— Hoje você vai encontrá-la de novo?
— Sim, ela tem ligado com frequência pra mim. Acredito que
esteja funcionando.
— Pelo que me conta, só pode ter funcionado. Não acredito
até agora que ela não percebe os adesivos.
— Sleight
of hand, meu caro. Colocar o adesivo é molesa, algumas das vezes posso
ter perdido a chance, mas agora com a prática consigo sempre. Ainda acho que
tirar ele é o mais difícil, mas agora que jah chegamos na quarta base toda vez
que se vira para que eu tire seu sutiã, aproveito para aih, eliminar as provas
-- disse piscando o olho para seu amigo que solta uma gargalhada e diz:
— Cara, se não te conhecesse tão bem, diria que você é um
psicopata.
— Psicopata eu? Não, só sou um farmacêutico com um estoque
ilimitado de adesivos de nicotina bem concentrados, testando uma hipótese. Não
tenho culpa de ela estar funcionando,
nem dos frutos que tenho colhido disso.