Olá pescadores de plantão agradeço por passarem aqui no meu Lago dos Sonhos e peço pra que, se possível, vcs deixem comentários sobre os textos, afinal sem eles naum terá como eu saber se estão ou não gostando do blog.


Também se puderem, deixem seu e-mail para q eu possa agradecer os comentários e a visita.


Bjus e espero que gostem


ASS: Pescador de Sonhos



domingo, 14 de novembro de 2010

Às Náides do Vesúvio


À seu falso rubro cabelo
Qual brasa em sangue vertida
De puro e natural vermelho
Qual veia, qual duto de fogo,
Qual rosa ferida de espinho

Oh! Náiade do Vesúvio
Que faz das lavas
Seu rio caudaloso
Das pedras, seu bosque florido
De mim um incêndio cardíaco

Oh! Moça de corpo de fogo
De cabelos crepitantes
Quem não tem amores
Tem amantes
Mulher de vida flamejante

Mulher de vida, sou seu homem
Homem que por, não seu canto
Mas seus curvos cantos,
Seu colo ardente e escamado,
Naufraga a nau, qual frágua em labaredas

Oh! Dama das rochas líquidas
Peço como o servo que meramente sou
Me queime em sua fornalha
Me ferva, me verta em magma
Me faça fagulhar de amor.

sexta-feira, 3 de setembro de 2010

Da concepção ao verdadeiro viver




Quatro paredes, noite de insônia, dois opostos seguindo aquilo que a física impõe: atritos, do sôfrego macho, incessantes, fecundando e saciando-se com aquela que ali o esperava.
Daí sua concepção, daquela noite mal dormida de um dia em que o coração de mais palpitar, como a si, outros também o quis.
Assim concebida estava, mas sentia-se ainda morta sem ter aquele que a animasse. Existia para si e em si, portanto ainda não se era.
Esperou o sol deslizar seus rudes braços pelo seu corpo plano, até que aquele que seu parto fizera veio a ela dar seu sopro de vida.
Cada fonema emitido de suas palavras eram suas células tomando vida, cada palavra expressada de seus versos eram seus órgãos em funcionamento, cada verso proclamado de suas estrofes eram seus membros tomando forma, por fim cada estrofe formava seu delgado e uniforme corpo.
até enfim viver.

quarta-feira, 30 de junho de 2010

Amigo dela(s)


Dias atrás vinha conhecendo uma garota, poderia dizer ter sido amor a primeira vista, mas isto não faz parte de minhas crenças então não direi. Porém foi algo parecido, já que lá, ainda longe de mim, sem notar que alguém como eu poderia existir, ela me encantava.

Talvez fora seu meigo sorriso, que de longe pareciam um arco cintilante de marfins, talvez seu olhar natural de mulher sedutora, que sem saber convidava o meu olhar a segui-lo ou até seu andar flutuante, que toda mulher na flor da idade aprende a usar para ter voltado para si todos os olhares de cobiça, luxúria e desejo.

Aos poucos a distância se encurtava e por intermédio de uma amiga ela me conheceu, afinal eu já a conhecia ou como disse vinha conhecendo.

Passaram-se meses, aquilo que eu sentira, que para mim era instinto masculino, passou a se tornar algo mais puro, um pouco mais insento daquele jogo de sedução e um Q a mais de algo que até então nunca havia sentido, portanto ainda não inventara um nome.

Era estranha a nossa relação. Pensar que éramos amigos se tornava impossível a medida que percebia que não era aquilo que eu queria para nós dois.

Mas a minha burrice, ou ingenuidade, ou até a minha falta de experiência me fazia ser fraco e continuar a forjar uma amizade, da qual eu até gostava, aliás adorava, mas que dia após dia retalhava-me a alma.

Até que num dia como os outros, como todos, percebo que conhecera duas garotas quando minha amiga apresentou-a a mim. Ambas eram identicas física e psicologicamente, daí eu me confundira. O único algo que as diferenciavam eram seus amores.

Descobri que enquanto uma gostava de um conhecido meu, que mais tarde viria a saber que fora seu ex, a outra gostava de mim.

Vendo por esse lado tudo estava perfeito afinal uma das duas, as quais eu me apaixonara pensando ser uma única pessoa, gostava de mim. Porém descobri que não era dela que eu gostava, gostava era da outra.

Só de vê-la perto de seu ex meu corpo se corroía num ciúmes que seria aceitável se acaso estivéssemos juntos, enquanto a que gostava de mim eu a deixava do meu lado,por mais que eu não correspondesse com suas espectativas ainda era amigo dela, ainda era amigo dela(s), ainda sou amigo dela(s), ainda amigo dela(s), amigo dela(s), ELA(s)

quarta-feira, 16 de junho de 2010

Especulações na vida de um novo sucesso brasileiro


Um violino alado negro
Do pretume da noite da rua
Decidiu fazer seresta
Pro sol em vez de pra lua
Já que em seu cantar noturno
Ninguém nunca sequer suportava
Levava logo um tabefe
Assim sempre desafinava
Então um dia testou
Começar carreira diurna
De início detestou
Perdera sua vida gatuna

Pouco ele conseguia
Nem sequer uma nota saía
Os tabefes eram ligeiros
Seu corpo contrastava no dia
Então não mais que decidido
Procurou se adaptar
Viu que a moda não era a monocromia
E seu corpo quis esbranquiçar
Então feito uma zebra
O violino alado zebrado
Com pintas e listras tão brancas
Viu-se o novo sucesso das rádios

Hoje em dia tá famoso
O ex noturno violino
Tem até nome artístico
Com palavra e termos latinos
O seu público ele leva a loucura
(Dizem até que pode matar)
Com suas notas finas sonoras
E o novo sucesso que vai lançar:
Segundo especulações da imprensa
No nome tem "hemorrágica"
E pode ser relançamento
Assim pressupomos dengue hemorrágica.

quinta-feira, 20 de maio de 2010

Nascido [só] para amar


De novo, de repente
Novamente, como sempre
Como desde cedo vem sendo
Desdo o primeiro amor crescente
Me apaixonei por mais outra uma
Uma que até pensei não ser igual
Mas ainda não foi diferente

Aos poucos crusavam-se olhares
Que aos poucos viravam palavras
Aos poucos disfarçadas cantadas
Que se perdiam como no oceano os mares
Num oceano de conversas
Com singelas indiretas
E diretas singulares

E o tempo corria em liberdade
Sem ninguém se declarar
Até um lado desistir
Deixando-me sem a verdade
Mas com uma única pergunta:
Como deixei mais esse amor
Contagiar-se com a amizade?

quarta-feira, 12 de maio de 2010

Trânsito

Nesse que aqui nesta terra,
Como em outras do ocidente,
Vê-se listras paralelas
Uma de cor neutra outra quente
Sendo esquerdas o pálido branco
E direitas o vermelho do poente

Enquanto do outro lado do mundo
No olho rachado da rua
Correm estas mesmas listras
Mas diferentes são as suas
São brancas as que vermelhas eram
E as vermelhas, brancas como a cheia lua

quinta-feira, 6 de maio de 2010

Troca de papéis


Ao ver a sua boca
Fui encantado pelo sorriso
Ao ver os seus olhos
Fiquei assustado, pois vi o abismo
Ao ver seu semblante
Fui enfeitaçado como Narciso
Mas não era reflexo
Era você e de ti eu preciso

Ao ver que a tinha
Minha vida era de puros sorrisos
Ao ver que era minha
Era como sair vivo da queda do abismo
Ao vê-la sozinha
Era como ver ao lago ajoelhado Narciso
Era como a ter sem saber que não tinha

Ao vê-la partir
Em minha boca morria o sorriso
Ao vê-la distante
Minha alma despencava do abismo
Ao ver nossa história
Percebi ser Eco e você, Narciso

sexta-feira, 30 de abril de 2010

Ideologia de Narciso

[desculpem a demora das postagens, to sem net :( ]

Seu olhar nunca havia mentido para mim, era certo que algo me escondia, mas o quê? O que fazia suas pernas tremerem ao perguntar onde estava, mesmo que em minha voz eu forçosamente escondia a desconfiança?
Nunca soube responder, na verdade sabia, mas não queria saber. A cada uma de suas saídas via minha curiosidade ser atiçada, mas eu não procurava simplesmente descobrir o que fazia sondando-a. Minha natureza investigativa me obrigava a sondar a minha mente para procurar, com meus próprios pensamentos, intuir o que ocorria.
Sempre fiz isso. Desde quando bebês eram entregues pelas cegonhas, solucionava casos da vida com o simples observar dos fatos, fui obrigado a passar a fase do “Por quê?” mudamente pelo meu avô que treinou-me a não precisar de ninguém muito menos nas horas de dúvida.
Segundo ele e sua teoria desenvolvida junto a um colega: as pessoas vivem a enganar às outras e a si mesmas. Por mais que exista uma série de outros sentimentos acima de tudo há o egoísmo, sendo os restantes meros variantes deste último que era o único e unânime sentimento no mundo, portanto um simples sinônimo de sentimento.
Durante mais dois ou três anos passei a pensar se seguia ou não a ideologia do velho enquanto este me treinava nela e aos poucos intuí por conta própria que já estava atrelado a tal ideologia, tudo que eu fazia estava voltado ao que ele ensinara a mim antes de morrer. Ainda infante com meus cinco anos de idade passei a desenvolver a tese do falecido, assim nos primeiros anos de escola minha mente já estava socialmente formada na ideologia de Narciso.
Minha intuição era cada vez mais exata e ágil, portanto minhas notas eram sempre excelentes apesar de minha frequência às aulas ser notavelmente baixa. Até chegar à conclusão de que a escola não me servia mais fiz minha freqüência ir de baixa a nula de uma semana à outra, desse modo desvinculei-me totalmente dessa entidade já que, como de nada, também não precisava dela.
Com apenas onze anos passei a intuir que outra instituição já não valia a pena, e nesta idade fugi na certeza de nunca mais voltar, nem por contra própria e nem por outrem, à minha casa.
Já nos meus quinze percebi que não precisava mais de ninguém, já me bastava por si só. Dinheiro eu conseguia como detetive particular; morada, com dinheiro; solidão, com morada; e me aprofundar na ideologia do defunto, com solidão.
Os casos mais freqüentes que eu resolvia e por sua vez os mais fáceis eram os de traição. Eu via o parceiro do cliente traindo-o ou não só de olhar para tal cliente, tudo era óbvio nestes casos: por mais que os locais de encontro fossem inusitados e originais um letreiro luminoso sempre aparecia diante de meus olhos “Aqui fulano trai cicrano com beltrano”. Como eu disse tudo era óbvio nestes casos, antes de Lia.
Esta morava próximo ao escritório que eu montara com o dinheiro dos cornos e dos que não o eram (mas viriam a ser por regra geral) que me contratavam. A primeira vez que a vi foi como ter a minha frente um espelho, um reflexo meu nela, e com isso intuía que aos poucos eu me entregaria ao egoísmo amor e que uma hora ou outra seria o meu mais novo cliente, e como sempre eu acertei mais uma intuição.
Eu sabia que era traído, como também anteriormente sabia que seria. Na lógica era para estar conformado, mas sem que eu compreendesse não estava.
Agora não mais me perguntava “o quê?” (pergunta que fazia para apaziguar minha guerra interior) me perguntava “por quê?” (pergunta-estopim para que uma nova batalha recomeçasse). Minha mente provava por “a + b” que eu era traído, contudo o idiota do coração não queria acreditar, fazia-me persistir no mesmo erro, erro que eu cometera há um ano passando a viver com Lia.
Por mais que o egoísmo me prendesse a ela, estar ali sempre ao seu lado ia contra tudo o que o velho me ensinara, tal sina corroia meu corpo como a ferrugem, o ferro. Tinha de me separar dela, mas não conseguia. Até perceber que era ela quem deveria afastar-se de mim.
Passei a criar maneiras para fazer com que ela definitivamente não se visse em mim, já que eu não conseguia não me ver nela, desse modo fui me tornando cada vez mais insuportável a ela quanto aquela guerra era para mim. Até que um dia Lia começou a me observar com o mesmo olhar que eu fazia ao observar um caso, olhar que até então pensei ser exclusivo dos seguidores da ideologia de Narciso. Com a mesma expressão ela disse:
— Por que ainda persiste nesta ideologia que só o destrói? – simplesmente não entendi nada. “Quem era aquela descrente para conhecer a ideologia que o defunto me ensinara?” Ela continuou em tom de deboche – bem que meu pai dissera que seu colega levava muito a sério aquele negócio de ideologia.
Eu não podia somente ouvir e emudecer-me, então intuindo o que para mim já estava óbvio retruquei:
— Agora entendo o motivo do olhar, você também foi criada na ideologia de Narciso.
— Criada fui, mas da maneira certa – ela disse com um ar que para mim é o de prepotência.
— Maneira certa? Não existe maneira certa ou errada, só há uma maneira a que o defunto e seu pai criaram e na qual crescemos.
— Como disse, meu pai sempre dizia que aquele velho levava muito a sério a ideologia, pelo que deduzi você se isolou da sociedade fugindo do egoísmo, contudo não é da natureza humana esquecer o seu ego, o seu próprio egoísmo, aí está o erro da sua formação. Quem entra muito a fundo na ideologia de Narciso, privando-se do egoísmo do mundo e acima de tudo o seu próprio egoísmo forma em si um botão de autodestruição e pelo que eu vejo o seu já está completo há tempos só restando a você esquece-lo, reavendo o seu ego ou apertá-lo de vez, continuando com aquilo que acreditara seu avô.
Ao final de sua fala percebi que a guerra terminara de vez, como ela ousava por em xeque a ideologia do velhote e me dar alternativas para seguir. O espelho que via nela estilhaçou-se inteiramente, e meu coração no mesmo estado custava a recompor-se da perda da guerra.
Saí da casa onde morávamos e comecei a andar sem rumo, procurando como sempre deduzir o que acabara de acontecer até perceber que aquela que minutos antes fora minha amada passou a me estudar desde a primeira vez que me vira, testou-me procurando saber como era o ápice da ideologia que o defunto e seu pai desenvolveram. Eu que procurava afastar-me cada vez mais acabei me tornando um experimento da ideologia de Narciso.
Por um instante admirei a perspicácia e audácia com a qual Lia usou-me, criando e mascarando sentimentos, confundindo a minha intuição. Até que me percebi numa ponte, neste momento intuí pela última vez uma só coisa: apertar definitivamente o botão do qual Lia me havia falado.

segunda-feira, 8 de março de 2010

Rosa ausente

Escolhi uma única rosa
No meio de tantas num jardim
O estranho é que a escolhida
Ainda era invisível a mim

Por que foi ela entre tantas
Que eu poderia ter colhido
Alguns diriam ser acaso
E a esses não dou ouvidos

Talvez tenha sido pelo fato
De vê-la invisivelmente
Contemplar sua beleza
Como contemplar um ser ausente
Mas mesmo com a ausência
Sinto suas pétalas aveludadas
Acariciar o meu rosto
Com a brisa da alvorada

Mesmo sem vê-la
Um vulto moreno dança
Como borboleta que ao vento
Com graciosidade se lança

Sem falar no seu perfume
Seu doce e inodoro aroma
Que me enlaça com ternura
Que me envolve e me doma

Porém ainda não sei
Qual porquê de a escolher
Mas sei que num mesmo jardim
Se não fossem as flores diferentes
Eu ainda colheria aquela
A minha rosa ausente

segunda-feira, 1 de março de 2010

Queria me apaixonar


Um dia olhando pro longe
Sentado num banco da praça
Vi um rapaz ajoelhado
Aos pés de uma bela moça

Aquilo doeu-me no peito
Uma dor que vinha da alma
E aos poucos virava enxaqueca
Uma dor que tirava minha calma

Era como uma inveja
Daquele ali ajoelhado
Via o tempo se passando
"Como eu não tinha me apaixonado?"

Queria como um desejo louco
Ali naquele instante
Por que do jeito que fui
Não pude ter sido amante?

Catei minas lembranças
Como cata milho a galinha
Desde minha recordável infância
Até outras que ainda tinha

Fui companheiro fiel
Amigo inseparável
Era alegre descontraído
Será isso impaixonável?

Era paciente prestativo
E a todos dava ouvidos
Aquele que os ombros cedia
Àqueles com o coração partido

Lembrei-me ter me apaixonado
Mas ainda era fútil
Um amor sem simples nexo
E esse tal foi o último

Não entendia o porquê
"Será meu coração uma pedra?"
Ou o amor é um mero prêmio
A quem à vida se entrega

Agora eu ali sentado
Já quase me conformando
Vendo o que antes estava ajoelhado
Pelo "fora" ali chorando

terça-feira, 23 de fevereiro de 2010

Nova vida nova...


Nova vida, vida nova
Vida nova, vida minha
Bem melhor a vida nova
Do que as outras que eu tinha?
Aventuras inesperadas
Me esperam no caminho
Pessoas desconhecidas
As quais conhecerei sozinho


Vida nova essa vida
Que paira na minha frente
Vida nova, vida minha
Vida nova diferente


Oh memórias de outra vida
Que a sete chaves guardo
E que nesta nova vida
Vem como um triste fardo
Pois por mais alegre que seja
Esta minha nova vida
Ela tomou o altar sagrado
Das belas horas de antes
Horas essas já perdidas

segunda-feira, 1 de fevereiro de 2010

Anatomia do amor


Do meu coração ela fez morada

Esse músculo cardíaco

Virou casa de minha amada


Do meu átrio direito ela fez sala de estar

Por onde entram as visitas

E lá ficam a conversar


Do meu ventrículo direito ela fez sua cozinha

Com um corredor que sai pro jardim

Quando ela quiser ar


Jardim que dá para seu quarto

Onde fora ventrículo esquerdo

Para ali ela descansar


Por fim no meu átrio esquerdo

Ela pos sua porta de saída

Quando quiser viajar

Deixando em meu peito

A dor da despedida

segunda-feira, 18 de janeiro de 2010

por que ser poeta?


Por que ser poeta?
Antes disso me pergunto
Por que ser alguém?
Ninguém te conhece pelo que és
Talvez nem conheçam o que realmente são
Mas sabem de cor e salteado o que fazes
E também o que não
Sem ao menos desconfiar
Qual o porquê de ser poeta?

É fácil fazer lágrimas acariciarem rostos tristes
É fácil fazer sorrisos rasgarem-se de orelha a orelha
É mais fácil ainda temer ao ponto de sentir baforadas gélidas sobre o ombro
O difícil é ser poeta
E ao mesmo tempo querer ser alguém

Poeta não chora
Poeta não ri
Poeta não teme
Já que todo poeta
Só serve para criar emoção
E nunca provar
Da sua criatura

domingo, 10 de janeiro de 2010

O jogo


Foi uma corrida intensa, ganhei de mais de trilhões de concorrentes, vibrei ao ver aquela esfera me esperando, deliciei-me ao perceber que estava já dentro daquilo que enfim me deixaria viver.

Sentia penas utópicas fazendo-me cócegas, ouvia vozes puras, advindas daquela luz que me acompanhava desde minha concepção, cantando para mim. Sentia transformar-me: tão logo via membros saindo do meu corpo uniforme e disformemente humano, via meu sexo formar-se, via meu ser inteirar-se.

Apenas seis meses, complicações, aquilo que me prendia aos poucos se desgrudava, me sentia um assassino que ao invés de compartilhar da vida daquela que me sustentava, roubava a mesma desta mulher.

Vi outra luz, aquela que me acompanhara já se apagara há tempos, esta era mais forte tanto que me cegara instantaneamente. Pouco a pouco fui retomando minha fraca visão, até ofuscadamente ver os olhos fechados, sua pele se escondia na cor da parede. Era ela. Aquilo doeu por dentro, aquilo me fez calar, meu choro mudo cantava àquele corpo, cantava àquela alma que sorrindo me acariciou e sumiu na alvez da sala de parto.

Cresci, só, naquela máquina, que pensava ser ou parecer aquela que se despedira de mim tão cedo. Apesar de aquecida tinha a frieza de um metal, apesar de aconchegante tinha a morbidez daquela imagem que quisera não ter visto ou já que vira quisera ilusoriamente esquecer.

Recebia visitas constantes de mulheres de branco que pensavam estar me amamentando com o melhor leite, mas pra mim tinha gosto de saudade, saudade daquilo que ainda não vi ou senti.

Chegava a hora de eu receber alta, não entendia pra que, não tinha alguém com quem estar o mais próximo de parentes eram os homens e mulheres de branco além daquela máquina que pensava ser minha mãe.

Fui pequenino pra um orfanato e lá cresci, maltratado, criança represada que crescia querendo ser criança, criança querendo sê-la sem ter espaço psicológico para isso.

Secava as lágrimas todos os dias, o tempo passava e me desidratava enquanto um oceano se formava em minha volta afogando todos que me maltratavam e ao mesmo tempo aqueles que estavam por perto.

Cresci rebelde, cresci mal amado queria para o mundo o que o mundo quis pra mim, mal terminei o colégio já entrei nas drogas, mal tinha dezoito e roubava fortunas e vidas daqueles que indiretamente me fizeram assim.

Minha vida foi desse modo até o simples momento que a vi, relembrava-me algo, olhando pra ela via longe, mas via, era com uma miragem dentro do real, uma luz acalentava-me no simples de vê-la.

Era uma mocinha bem vestida com jeito de riquinha, mas aquilo não me importava, só a imagem dela me fazia enlouquecer.

Lembranças me bombardeavam, nos sonhos vi a imagem daquilo que me calou quando bebê. O tempo passava e me recuperava tanto fora quanto dentro, conseguia aos poucos me desgrudar daquilo que me prendia. Aquele sentimento, que nem sabia ser mútuo, me salvava aos poucos, me fazia esquecer do mundo de ódio que estava, me fazia querer viver.

Fui subindo de um poço imundo mergulhado num lago de ratos, via a luz no fim do túnel me chamando como antes.

Tomei domínio de mim mesmo, por tanto tempo a esperá-la sem ter pressa de chegada nem certeza da mesma, e parti para o ataque, sempre fui desajeitado, bruto, a vida não me ensinou ser diferente disso, mas com ela tentava ser outro tentava desbrutalizar-me, des-desajeitar-me. E com isso fui me aconchegando, aos poucos ela que da primeira vez fugiu, foi com pena me deixando viver. A garota era como criança assustada vendo um animal rente a jaula no zoológico, mas ali não tinha jaula, e mesmo assim algo nos separava, deixávamo-nos distantes, próximos só ao olhar.

Aos poucos a criança perdia o medo daquele bicho, como se ela me domesticasse, me tirasse da jaula e rolasse comigo na grama. Foram poucos os momentos com ela nunca trocamos palavras, somente olhares à distancia.

Mas depois de vários dias após a nossa primeira troca de olhares, acordei com um aperto no peito, havia tido um pesadelo aquela noite, neste eu estava mergulhado num líquido viscoso e no mesmo local uma luz dançava de um lado para o outro sendo a única coisa que iluminava o lugar, mas aos poucos como num negativo de foto aquela luz branca e acalentadora foi tornando-se escura engolindo tudo até mesmo eu que fui me sufocando na agonia até acordar.

Aquele seria o dia em que definitivamente nos encontraríamos, junto com a lembrança do pesadelo em contraste vinha a voz dela nos meus pensamentos, “Amanhã!”, sai do nosso local, do nosso “observatório” mútuo, sorrindo acho que pela primeira vez desde meu nascimento. Por que num dia tão feliz um pesadelo tinha de assombrar a minha vida? Fiquei sabendo a resposta logo que cheguei ao encontro.

Havia uma multidão aglomerada onde a garota sempre esteve durante os dias anteriores, havia viaturas de polícia e faixas isolando o local. Um calafrio enorme passou por mim, aquela luz agora dançava na minha frente, como se eu voltasse ao pesadelo, e de uma gargalhada tenebrosa ouço dizerem do aglomerado “É aquele ali que sempre estava com ela!”.

Não estava entendendo nada, só via braços me algemando e levando-me para uma das viaturas, ao chegar próximo à porta eu sinto uma dor no coração ao ver logo ao lado, ela que contrastava com sua pele branca o piche da rua, mas percebia-se que não era um branco comum era um branco pálido sem vida como era o estado que a moça se encontrava.

Meu coração não sentia mais nada como se ele estivesse anestesiado, não ouvia mais ele batendo, deixava as lágrimas cortarem o meu rosto quando uma força descontrolada me subiu pelos braços, consegui soltar-me dos policiais e com meu pranto eu lavei o vermelho que revestia seu belo rosto, por mais que estivesse morta eu sentia a sua presença e via o seu sorriso alegre naqueles lábios que pela primeira vez antes que os policiais me segurassem novamente eu toquei de leve e manso com meus lábios secos.

A dor era imensa e durante todo o caminho até a delegacia eu urrava, meu coração foi aos poucos voltando a si e quanto mais ele voltava mais a dor me maltratava.

Nem sabia o porquê de estar preso, só ouvia uns e outros falarem “É esse aí que matou a patricinha”, a cada vez que ouvia mais minha tristeza aumentava, não comia nada exceto quando algum guarda me fazia engolir a força toda uma pratada de uma espécie de lavagem.

Aos poucos fui entrando em estado vegetativo, aos poucos não conseguia nem me levantar para ir ao banheiro, aos poucos sentia uma mão me puxar cada vez mais pra baixo no poço de onde a pobre menina havia me tirado. Não durei muitas semanas naquele local não estava mais são o bastante para sobreviver, até que sem poder mais segurar no vão de tijolos das paredes do poço me joguei com tanta força sabendo que ali estava a minha perdição, mas ali pelo menos eu não sofreria.

De volta ao meu pesadelo, hoje descobri, porém só agora que estou morto, a vida é um jogo que só pode ser jogado por aqueles que nasceram para jogá-la. O meu destino foi traçado desde que matei minha mãe, mas eu não havia nascido para jogar e sim para ser mais um peão no tabuleiro dos dois grandes jogadores.

domingo, 3 de janeiro de 2010

A caçada


A brisa a tocá-la

Remexendo seus penachos

Esperta a cada olhar

Procurava movimentos ariscos

Que dela não podiam escapar


De leve o solo a tocá-lo

Acariciando suas patas de veludo

Tão manso em seu passar

Nenhum movimento brusco

Lhe podia atrapalhar


Ainda ela sobre o muro

Prestes as asas a abrir

Quando de repente o felino

Num pulo a quis ferir


Um gato sobre o muro

Tão longe com seu olhar

Vendo frustrado o leve movimento

Da andorinha a voar