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Bjus e espero que gostem
ASS: Pescador de Sonhos
domingo, 14 de novembro de 2010
Às Náides do Vesúvio
À seu falso rubro cabelo
Qual brasa em sangue vertida
De puro e natural vermelho
Qual veia, qual duto de fogo,
Qual rosa ferida de espinho
Oh! Náiade do Vesúvio
Que faz das lavas
Seu rio caudaloso
Das pedras, seu bosque florido
De mim um incêndio cardíaco
Oh! Moça de corpo de fogo
De cabelos crepitantes
Quem não tem amores
Tem amantes
Mulher de vida flamejante
Mulher de vida, sou seu homem
Homem que por, não seu canto
Mas seus curvos cantos,
Seu colo ardente e escamado,
Naufraga a nau, qual frágua em labaredas
Oh! Dama das rochas líquidas
Peço como o servo que meramente sou
Me queime em sua fornalha
Me ferva, me verta em magma
Me faça fagulhar de amor.
sexta-feira, 3 de setembro de 2010
Da concepção ao verdadeiro viver
Quatro paredes, noite de insônia, dois opostos seguindo aquilo que a física impõe: atritos, do sôfrego macho, incessantes, fecundando e saciando-se com aquela que ali o esperava.
Daí sua concepção, daquela noite mal dormida de um dia em que o coração de mais palpitar, como a si, outros também o quis.
Assim concebida estava, mas sentia-se ainda morta sem ter aquele que a animasse. Existia para si e em si, portanto ainda não se era.
Esperou o sol deslizar seus rudes braços pelo seu corpo plano, até que aquele que seu parto fizera veio a ela dar seu sopro de vida.
Cada fonema emitido de suas palavras eram suas células tomando vida, cada palavra expressada de seus versos eram seus órgãos em funcionamento, cada verso proclamado de suas estrofes eram seus membros tomando forma, por fim cada estrofe formava seu delgado e uniforme corpo.
até enfim viver.
quarta-feira, 30 de junho de 2010
Amigo dela(s)
quarta-feira, 16 de junho de 2010
Especulações na vida de um novo sucesso brasileiro
Um violino alado negro
Do pretume da noite da rua
Decidiu fazer seresta
Pro sol em vez de pra lua
Já que em seu cantar noturno
Ninguém nunca sequer suportava
Levava logo um tabefe
Assim sempre desafinava
Então um dia testou
Começar carreira diurna
De início detestou
Perdera sua vida gatuna
Pouco ele conseguia
Nem sequer uma nota saía
Os tabefes eram ligeiros
Seu corpo contrastava no dia
Então não mais que decidido
Procurou se adaptar
Viu que a moda não era a monocromia
E seu corpo quis esbranquiçar
Então feito uma zebra
O violino alado zebrado
Com pintas e listras tão brancas
Viu-se o novo sucesso das rádios
Hoje em dia tá famoso
O ex noturno violino
Tem até nome artístico
Com palavra e termos latinos
O seu público ele leva a loucura
(Dizem até que pode matar)
Com suas notas finas sonoras
E o novo sucesso que vai lançar:
Segundo especulações da imprensa
No nome tem "hemorrágica"
E pode ser relançamento
Assim pressupomos dengue hemorrágica.
quinta-feira, 20 de maio de 2010
Nascido [só] para amar
De novo, de repente
Novamente, como sempre
Como desde cedo vem sendo
Desdo o primeiro amor crescente
Me apaixonei por mais outra uma
Uma que até pensei não ser igual
Mas ainda não foi diferente
Aos poucos crusavam-se olhares
Que aos poucos viravam palavras
Aos poucos disfarçadas cantadas
Que se perdiam como no oceano os mares
Num oceano de conversas
Com singelas indiretas
E diretas singulares
E o tempo corria em liberdade
Sem ninguém se declarar
Até um lado desistir
Deixando-me sem a verdade
Mas com uma única pergunta:
Como deixei mais esse amor
Contagiar-se com a amizade?
quarta-feira, 12 de maio de 2010
Trânsito
Como em outras do ocidente,
Vê-se listras paralelas
Uma de cor neutra outra quente
Sendo esquerdas o pálido branco
E direitas o vermelho do poente
Enquanto do outro lado do mundo
No olho rachado da rua
Correm estas mesmas listras
Mas diferentes são as suas
São brancas as que vermelhas eram
E as vermelhas, brancas como a cheia lua
quinta-feira, 6 de maio de 2010
Troca de papéis
sexta-feira, 30 de abril de 2010
Ideologia de Narciso
Nunca soube responder, na verdade sabia, mas não queria saber. A cada uma de suas saídas via minha curiosidade ser atiçada, mas eu não procurava simplesmente descobrir o que fazia sondando-a. Minha natureza investigativa me obrigava a sondar a minha mente para procurar, com meus próprios pensamentos, intuir o que ocorria.
Sempre fiz isso. Desde quando bebês eram entregues pelas cegonhas, solucionava casos da vida com o simples observar dos fatos, fui obrigado a passar a fase do “Por quê?” mudamente pelo meu avô que treinou-me a não precisar de ninguém muito menos nas horas de dúvida.
Segundo ele e sua teoria desenvolvida junto a um colega: as pessoas vivem a enganar às outras e a si mesmas. Por mais que exista uma série de outros sentimentos acima de tudo há o egoísmo, sendo os restantes meros variantes deste último que era o único e unânime sentimento no mundo, portanto um simples sinônimo de sentimento.
Durante mais dois ou três anos passei a pensar se seguia ou não a ideologia do velho enquanto este me treinava nela e aos poucos intuí por conta própria que já estava atrelado a tal ideologia, tudo que eu fazia estava voltado ao que ele ensinara a mim antes de morrer. Ainda infante com meus cinco anos de idade passei a desenvolver a tese do falecido, assim nos primeiros anos de escola minha mente já estava socialmente formada na ideologia de Narciso.
Minha intuição era cada vez mais exata e ágil, portanto minhas notas eram sempre excelentes apesar de minha frequência às aulas ser notavelmente baixa. Até chegar à conclusão de que a escola não me servia mais fiz minha freqüência ir de baixa a nula de uma semana à outra, desse modo desvinculei-me totalmente dessa entidade já que, como de nada, também não precisava dela.
Já nos meus quinze percebi que não precisava mais de ninguém, já me bastava por si só. Dinheiro eu conseguia como detetive particular; morada, com dinheiro; solidão, com morada; e me aprofundar na ideologia do defunto, com solidão.
Os casos mais freqüentes que eu resolvia e por sua vez os mais fáceis eram os de traição. Eu via o parceiro do cliente traindo-o ou não só de olhar para tal cliente, tudo era óbvio nestes casos: por mais que os locais de encontro fossem inusitados e originais um letreiro luminoso sempre aparecia diante de meus olhos “Aqui fulano trai cicrano com beltrano”. Como eu disse tudo era óbvio nestes casos, antes de Lia.
Esta morava próximo ao escritório que eu montara com o dinheiro dos cornos e dos que não o eram (mas viriam a ser por regra geral) que me contratavam. A primeira vez que a vi foi como ter a minha frente um espelho, um reflexo meu nela, e com isso intuía que aos poucos eu me entregaria ao egoísmo amor e que uma hora ou outra seria o meu mais novo cliente, e como sempre eu acertei mais uma intuição.
Eu sabia que era traído, como também anteriormente sabia que seria. Na lógica era para estar conformado, mas sem que eu compreendesse não estava.
Agora não mais me perguntava “o quê?” (pergunta que fazia para apaziguar minha guerra interior) me perguntava “por quê?” (pergunta-estopim para que uma nova batalha recomeçasse). Minha mente provava por “a + b” que eu era traído, contudo o idiota do coração não queria acreditar, fazia-me persistir no mesmo erro, erro que eu cometera há um ano passando a viver com Lia.
Por mais que o egoísmo me prendesse a ela, estar ali sempre ao seu lado ia contra tudo o que o velho me ensinara, tal sina corroia meu corpo como a ferrugem, o ferro. Tinha de me separar dela, mas não conseguia. Até perceber que era ela quem deveria afastar-se de mim.
Passei a criar maneiras para fazer com que ela definitivamente não se visse em mim, já que eu não conseguia não me ver nela, desse modo fui me tornando cada vez mais insuportável a ela quanto aquela guerra era para mim. Até que um dia Lia começou a me observar com o mesmo olhar que eu fazia ao observar um caso, olhar que até então pensei ser exclusivo dos seguidores da ideologia de Narciso. Com a mesma expressão ela disse:
— Por que ainda persiste nesta ideologia que só o destrói? – simplesmente não entendi nada. “Quem era aquela descrente para conhecer a ideologia que o defunto me ensinara?” Ela continuou em tom de deboche – bem que meu pai dissera que seu colega levava muito a sério aquele negócio de ideologia.
Eu não podia somente ouvir e emudecer-me, então intuindo o que para mim já estava óbvio retruquei:
— Agora entendo o motivo do olhar, você também foi criada na ideologia de Narciso.
— Criada fui, mas da maneira certa – ela disse com um ar que para mim é o de prepotência.
— Maneira certa? Não existe maneira certa ou errada, só há uma maneira a que o defunto e seu pai criaram e na qual crescemos.
— Como disse, meu pai sempre dizia que aquele velho levava muito a sério a ideologia, pelo que deduzi você se isolou da sociedade fugindo do egoísmo, contudo não é da natureza humana esquecer o seu ego, o seu próprio egoísmo, aí está o erro da sua formação. Quem entra muito a fundo na ideologia de Narciso, privando-se do egoísmo do mundo e acima de tudo o seu próprio egoísmo forma em si um botão de autodestruição e pelo que eu vejo o seu já está completo há tempos só restando a você esquece-lo, reavendo o seu ego ou apertá-lo de vez, continuando com aquilo que acreditara seu avô.
Ao final de sua fala percebi que a guerra terminara de vez, como ela ousava por em xeque a ideologia do velhote e me dar alternativas para seguir. O espelho que via nela estilhaçou-se inteiramente, e meu coração no mesmo estado custava a recompor-se da perda da guerra.
Saí da casa onde morávamos e comecei a andar sem rumo, procurando como sempre deduzir o que acabara de acontecer até perceber que aquela que minutos antes fora minha amada passou a me estudar desde a primeira vez que me vira, testou-me procurando saber como era o ápice da ideologia que o defunto e seu pai desenvolveram. Eu que procurava afastar-me cada vez mais acabei me tornando um experimento da ideologia de Narciso.
Por um instante admirei a perspicácia e audácia com a qual Lia usou-me, criando e mascarando sentimentos, confundindo a minha intuição. Até que me percebi numa ponte, neste momento intuí pela última vez uma só coisa: apertar definitivamente o botão do qual Lia me havia falado.
segunda-feira, 8 de março de 2010
Rosa ausente
segunda-feira, 1 de março de 2010
Queria me apaixonar
Um dia olhando pro longe
Sentado num banco da praça
Vi um rapaz ajoelhado
Aos pés de uma bela moça
Aquilo doeu-me no peito
Uma dor que vinha da alma
E aos poucos virava enxaqueca
Uma dor que tirava minha calma
Era como uma inveja
Daquele ali ajoelhado
Via o tempo se passando
"Como eu não tinha me apaixonado?"
Queria como um desejo louco
Ali naquele instante
Por que do jeito que fui
Não pude ter sido amante?
Catei minas lembranças
Como cata milho a galinha
Desde minha recordável infância
Até outras que ainda tinha
Fui companheiro fiel
Amigo inseparável
Era alegre descontraído
Será isso impaixonável?
Era paciente prestativo
E a todos dava ouvidos
Aquele que os ombros cedia
Àqueles com o coração partido
Lembrei-me ter me apaixonado
Mas ainda era fútil
Um amor sem simples nexo
E esse tal foi o último
Não entendia o porquê
"Será meu coração uma pedra?"
Ou o amor é um mero prêmio
A quem à vida se entrega
Agora eu ali sentado
Já quase me conformando
Vendo o que antes estava ajoelhado
Pelo "fora" ali chorando
terça-feira, 23 de fevereiro de 2010
Nova vida nova...
Vida nova, vida minha
Bem melhor a vida nova
Do que as outras que eu tinha?
Aventuras inesperadas
Me esperam no caminho
Pessoas desconhecidas
As quais conhecerei sozinho
Vida nova essa vida
Que paira na minha frente
Vida nova, vida minha
Vida nova diferente
Oh memórias de outra vida
Que a sete chaves guardo
E que nesta nova vida
Vem como um triste fardo
Pois por mais alegre que seja
Esta minha nova vida
Ela tomou o altar sagrado
Das belas horas de antes
Horas essas já perdidas
segunda-feira, 1 de fevereiro de 2010
Anatomia do amor
Do meu coração ela fez morada
Esse músculo cardíaco
Virou casa de minha amada
Do meu átrio direito ela fez sala de estar
Por onde entram as visitas
E lá ficam a conversar
Do meu ventrículo direito ela fez sua cozinha
Com um corredor que sai pro jardim
Quando ela quiser ar
Jardim que dá para seu quarto
Onde fora ventrículo esquerdo
Para ali ela descansar
Por fim no meu átrio esquerdo
Ela pos sua porta de saída
Quando quiser viajar
Deixando em meu peito
A dor da despedida
segunda-feira, 18 de janeiro de 2010
por que ser poeta?
Por que ser poeta?
Antes disso me pergunto
Por que ser alguém?
Ninguém te conhece pelo que és
Talvez nem conheçam o que realmente são
Mas sabem de cor e salteado o que fazes
E também o que não
Sem ao menos desconfiar
Qual o porquê de ser poeta?
É fácil fazer lágrimas acariciarem rostos tristes
É fácil fazer sorrisos rasgarem-se de orelha a orelha
É mais fácil ainda temer ao ponto de sentir baforadas gélidas sobre o ombro
O difícil é ser poeta
E ao mesmo tempo querer ser alguém
Poeta não chora
Poeta não ri
Poeta não teme
Já que todo poeta
Só serve para criar emoção
E nunca provar
Da sua criatura
domingo, 10 de janeiro de 2010
O jogo
Foi uma corrida intensa, ganhei de mais de trilhões de concorrentes, vibrei ao ver aquela esfera me esperando, deliciei-me ao perceber que estava já dentro daquilo que enfim me deixaria viver.
Sentia penas utópicas fazendo-me cócegas, ouvia vozes puras, advindas daquela luz que me acompanhava desde minha concepção, cantando para mim. Sentia transformar-me: tão logo via membros saindo do meu corpo uniforme e disformemente humano, via meu sexo formar-se, via meu ser inteirar-se.
Apenas seis meses, complicações, aquilo que me prendia aos poucos se desgrudava, me sentia um assassino que ao invés de compartilhar da vida daquela que me sustentava, roubava a mesma desta mulher.
Vi outra luz, aquela que me acompanhara já se apagara há tempos, esta era mais forte tanto que me cegara instantaneamente. Pouco a pouco fui retomando minha fraca visão, até ofuscadamente ver os olhos fechados, sua pele se escondia na cor da parede. Era ela. Aquilo doeu por dentro, aquilo me fez calar, meu choro mudo cantava àquele corpo, cantava àquela alma que sorrindo me acariciou e sumiu na alvez da sala de parto.
Cresci, só, naquela máquina, que pensava ser ou parecer aquela que se despedira de mim tão cedo. Apesar de aquecida tinha a frieza de um metal, apesar de aconchegante tinha a morbidez daquela imagem que quisera não ter visto ou já que vira quisera ilusoriamente esquecer.
Recebia visitas constantes de mulheres de branco que pensavam estar me amamentando com o melhor leite, mas pra mim tinha gosto de saudade, saudade daquilo que ainda não vi ou senti.
Chegava a hora de eu receber alta, não entendia pra que, não tinha alguém com quem estar o mais próximo de parentes eram os homens e mulheres de branco além daquela máquina que pensava ser minha mãe.
Fui pequenino pra um orfanato e lá cresci, maltratado, criança represada que crescia querendo ser criança, criança querendo sê-la sem ter espaço psicológico para isso.
Secava as lágrimas todos os dias, o tempo passava e me desidratava enquanto um oceano se formava em minha volta afogando todos que me maltratavam e ao mesmo tempo aqueles que estavam por perto.
Cresci rebelde, cresci mal amado queria para o mundo o que o mundo quis pra mim, mal terminei o colégio já entrei nas drogas, mal tinha dezoito e roubava fortunas e vidas daqueles que indiretamente me fizeram assim.
Minha vida foi desse modo até o simples momento que a vi, relembrava-me algo, olhando pra ela via longe, mas via, era com uma miragem dentro do real, uma luz acalentava-me no simples de vê-la.
Era uma mocinha bem vestida com jeito de riquinha, mas aquilo não me importava, só a imagem dela me fazia enlouquecer.
Lembranças me bombardeavam, nos sonhos vi a imagem daquilo que me calou quando bebê. O tempo passava e me recuperava tanto fora quanto dentro, conseguia aos poucos me desgrudar daquilo que me prendia. Aquele sentimento, que nem sabia ser mútuo, me salvava aos poucos, me fazia esquecer do mundo de ódio que estava, me fazia querer viver.
Fui subindo de um poço imundo mergulhado num lago de ratos, via a luz no fim do túnel me chamando como antes.
Tomei domínio de mim mesmo, por tanto tempo a esperá-la sem ter pressa de chegada nem certeza da mesma, e parti para o ataque, sempre fui desajeitado, bruto, a vida não me ensinou ser diferente disso, mas com ela tentava ser outro tentava desbrutalizar-me, des-desajeitar-me. E com isso fui me aconchegando, aos poucos ela que da primeira vez fugiu, foi com pena me deixando viver. A garota era como criança assustada vendo um animal rente a jaula no zoológico, mas ali não tinha jaula, e mesmo assim algo nos separava, deixávamo-nos distantes, próximos só ao olhar.
Aos poucos a criança perdia o medo daquele bicho, como se ela me domesticasse, me tirasse da jaula e rolasse comigo na grama. Foram poucos os momentos com ela nunca trocamos palavras, somente olhares à distancia.
Mas depois de vários dias após a nossa primeira troca de olhares, acordei com um aperto no peito, havia tido um pesadelo aquela noite, neste eu estava mergulhado num líquido viscoso e no mesmo local uma luz dançava de um lado para o outro sendo a única coisa que iluminava o lugar, mas aos poucos como num negativo de foto aquela luz branca e acalentadora foi tornando-se escura engolindo tudo até mesmo eu que fui me sufocando na agonia até acordar.
Aquele seria o dia em que definitivamente nos encontraríamos, junto com a lembrança do pesadelo em contraste vinha a voz dela nos meus pensamentos, “Amanhã!”, sai do nosso local, do nosso “observatório” mútuo, sorrindo acho que pela primeira vez desde meu nascimento. Por que num dia tão feliz um pesadelo tinha de assombrar a minha vida? Fiquei sabendo a resposta logo que cheguei ao encontro.
Havia uma multidão aglomerada onde a garota sempre esteve durante os dias anteriores, havia viaturas de polícia e faixas isolando o local. Um calafrio enorme passou por mim, aquela luz agora dançava na minha frente, como se eu voltasse ao pesadelo, e de uma gargalhada tenebrosa ouço dizerem do aglomerado “É aquele ali que sempre estava com ela!”.
Não estava entendendo nada, só via braços me algemando e levando-me para uma das viaturas, ao chegar próximo à porta eu sinto uma dor no coração ao ver logo ao lado, ela que contrastava com sua pele branca o piche da rua, mas percebia-se que não era um branco comum era um branco pálido sem vida como era o estado que a moça se encontrava.
Meu coração não sentia mais nada como se ele estivesse anestesiado, não ouvia mais ele batendo, deixava as lágrimas cortarem o meu rosto quando uma força descontrolada me subiu pelos braços, consegui soltar-me dos policiais e com meu pranto eu lavei o vermelho que revestia seu belo rosto, por mais que estivesse morta eu sentia a sua presença e via o seu sorriso alegre naqueles lábios que pela primeira vez antes que os policiais me segurassem novamente eu toquei de leve e manso com meus lábios secos.
A dor era imensa e durante todo o caminho até a delegacia eu urrava, meu coração foi aos poucos voltando a si e quanto mais ele voltava mais a dor me maltratava.
Nem sabia o porquê de estar preso, só ouvia uns e outros falarem “É esse aí que matou a patricinha”, a cada vez que ouvia mais minha tristeza aumentava, não comia nada exceto quando algum guarda me fazia engolir a força toda uma pratada de uma espécie de lavagem.
Aos poucos fui entrando em estado vegetativo, aos poucos não conseguia nem me levantar para ir ao banheiro, aos poucos sentia uma mão me puxar cada vez mais pra baixo no poço de onde a pobre menina havia me tirado. Não durei muitas semanas naquele local não estava mais são o bastante para sobreviver, até que sem poder mais segurar no vão de tijolos das paredes do poço me joguei com tanta força sabendo que ali estava a minha perdição, mas ali pelo menos eu não sofreria.
De volta ao meu pesadelo, hoje descobri, porém só agora que estou morto, a vida é um jogo que só pode ser jogado por aqueles que nasceram para jogá-la. O meu destino foi traçado desde que matei minha mãe, mas eu não havia nascido para jogar e sim para ser mais um peão no tabuleiro dos dois grandes jogadores.
domingo, 3 de janeiro de 2010
A caçada
A brisa a tocá-la
Remexendo seus penachos
Esperta a cada olhar
Procurava movimentos ariscos
Que dela não podiam escapar
De leve o solo a tocá-lo
Acariciando suas patas de veludo
Tão manso em seu passar
Nenhum movimento brusco
Lhe podia atrapalhar
Ainda ela sobre o muro
Prestes as asas a abrir
Quando de repente o felino
Num pulo a quis ferir
Um gato sobre o muro
Tão longe com seu olhar
Vendo frustrado o leve movimento
Da andorinha a voar