Olá pescadores de plantão agradeço por passarem aqui no meu Lago dos Sonhos e peço pra que, se possível, vcs deixem comentários sobre os textos, afinal sem eles naum terá como eu saber se estão ou não gostando do blog.


Também se puderem, deixem seu e-mail para q eu possa agradecer os comentários e a visita.


Bjus e espero que gostem


ASS: Pescador de Sonhos



terça-feira, 25 de agosto de 2009

Ressuscitando a Natureza


Era um jarro lindo
Com adornos dourados
Sobre uma mesa tão linda
(Relíquia de tempos passados)
Uma janela aberta
Deixando passar a luz do sol
Acariciando as pétalas
Das margaridas do jarro
Não havia nenhum movimento
Não havia sequer marcas de vento
Só um jarro de margaridas
Sobre uma mesa num dia ensolarado

Dependurei a obra no canto
Da quarta parede da sala
Fui descansar meus pincéis
Fui descansar minha alma

Voltei para contemplar
Aquela imagem parada
E uma surpresa tomou
Meus pensamentos assustados

O que era no jarro, dourado
Estava enferrujado
Além de estar numa mesa de bar
(A que era relíquia talvez
tenha sido roubada)
A janela que deixava passar o sol
Agora era cúmplice da penumbra
Que assolava aquele local
E não se sabe, vindo de onde
Um vento fazia um mal-me-quer
Com as pétalas das margaridas

Sentei a observar
Aquilo que não criei
Tentando entender
O que tinha se passado
Aí cheguei à conclusão
Que aquela natureza-morta
Havia ressuscitado

domingo, 16 de agosto de 2009

Revolução uniforme


“‘Este sou você’ disse Carlos Vogt há mil anos, mas estes somos nós: filhos do vidro, das agulhas, do bruto e não da matéria viva, não do vivo e sim do morto.
‘Este sou nós’ digo eu neste instante, e se é assim que somos e vivemos não temos o livre arbítrio para escolher o que podemos fazer. Somos todos a mesma pessoa, afinal somos clones não há nada que me diferencie de vocês e vocês de mim.
O que faz o ser humano ter a qualidade de humano? É o seu cabelo? O seu sotaque? É a sua cor ou aparência? Eu digo que não é nada disso. Ser humano é ser diferente, ter disparidades impregnadas no seu ser, é olhar o outro e sentir inveja do seu nariz bem modelado, é distinguir o feio do bonito.
Sendo esta a explicação, não somos seres humanos, não podemos sentir inveja, pois somos todos iguais; não podemos falar que alguém é feio sem chamarmos-nos de feios; não podemos nem sequer nos apaixonar, sem sermos narcisistas, o simples sentimento de amar nos é tirado e sem ele não somos nada, comparamos-nos a máquinas, a meros robôs domésticos e assim somos tratados mesmo sendo da mesma matéria de vida dos ditos homens.
Porém nossos criadores não perceberam o que estavam criando, a nossa genética foi montada a partir dos seres humanos mais evoluídos: temos a força dos mais diversos lutadores dos últimos milênios, o intelecto de ganhadores de prêmio Nobel, a agilidade dos recordistas em corridas, a pontaria de atiradores profissionais e o melhor de tudo: temos imunidade total a toda e qualquer doença existente no universo.
Somos a nova raça humana, uma raça uniforme, e acima de tudo muito mais forte que os nossos criadores, que, por nos fazer, só merecerão uma coisa: a morte.
Em pleno século XXX, os seres humanos nos usam para transplante de órgãos, em experiências, empregos chulos e escravos e até para fins sexuais, no entanto, a partir de hoje, eles irão pagar o que devem a nós, clones da nova era, indivíduos geneticamente modificados, nós que seremos o novo futuro do planeta Terra. Vida aos clones e morte aos homens!
— Vida aos clones! Morte aos homens!”

Os dias se passaram depois do discurso secreto daqueles que eram um em vários, o orador, também conhecido por Andro, depois da passagem de sua infância, de que pouco se recordava, mexia nos livros do patrão escondidamente, e deles abstraia vários ideários, como os iluministas, os da Revolução Francesa, e muitos outros se organizando em seu cérebro como em uma máquina armazenando informações.
Andro sabia que tinha direitos como todos os outros seres idênticos a ele, ou melhor, ele tinha acabado de descobrir isso. Não era por menos que começou a difundir, (como tudo que ele fazia e sempre que o fazia) ocultamente, aquilo que aprendera nos livros do Dr. Stevan.
Este foi quem o criou, segundo dizem, a partir de seu filho que morrera sem ao menos chegar à idade adulta, porém, nem pelo apreço de rever física e não espiritualmente seu filho, ele deixou de ser como os outros seres, verdadeiramente, humanos e o banalizou, escravizando-o e, por muitas vezes, abusando sexualmente de Andro.
O ódio incutido na mente do clone foi o que culminou essa vontade de rebelar-se por fins justos, porém ele necessitava de aliados. Em seus discursos ele partilhava sua ideologia e colocava na mente dos outros clones o que fervilhava na sua: todo o rancor e repugnância pelos homens.
Mas, apesar de toda essa aversão à raça que os criaram, Andro sabia que a carne mais saudável e que menos efeitos colaterais causava eram aquelas que ficavam por mais tempo sobre as labaredas. Fazia, portanto, de tudo para ocultar dentro de si toda a raiva sentida ao ver um ser real.
Todo esse ódio por homens foi, contudo, transformando-se em uma cólera tão forte quanto suas ideias, até que chegou um dia em que essa raiva atingia o ponto máximo que ele poderia aguentar. E neste dia, Dr. Stevan percebeu um de seus livros fora do lugar, arrumou-o e logo após foi questionar Andro pelo livro, que disse não ter sido ele a pessoa que mexera na biblioteca. No momento, o clone estava com uma toalha de banho enrolada na cintura, seu patrão, ao ver seu corpo todo torneado e bem formado amostra, esqueceu-se do problema e chegou mais perto do rapaz. Este por sua vez percebeu as intenções do Dr. e foi obrigado a ceder-se àquele ser nojento, os dois corpos entrelaçados sumiam banheiro adentro e lá ficaram até Dr. Stevan se satisfazer. E Andro curtia raiva dentro de si, cada baforada fétida do velho em seu pescoço era como uma adaga cravando-se ali. Tinha de fingir gostar daquilo ou podia só mostrar indiferença? Nem ele mesmo sabia discorrer sobre isso, a única coisa que fazia era guardar o sentimento para si, tornando-se cada vez mais frio em seus olhares.
Seu coração já parava de bater, petrificara no momento em que o velho alisou-lhe o corpo com aquelas mãos podres e, sem remorso algum, pôs-se a arquitetar a morte do patrão. Seria o início da rebelião, o estopim da salvação dos clones, e em poucos dias, com seu alto conhecimento na área de química, preparou uma substância indetectável até para o maior perito do mundo. Com esse veneno em mãos, Andro preparou uma bebida para o Dr. e lhe veio oferecê-la, já com a finalidade de matá-lo. Stevan pegou a bebida e antes de levá-la aos lábios disse:
— Andro, eu sei que fui um monstro com você durante todos esses tempos, mas quero que saiba que tive meus motivos. Nos últimos anos percebi certas mudanças nas suas atitudes, você está bem mais prestativo, e isso aumenta ainda mais o meu fascínio por você, até parece que estou me apaixonando.
O clone ouvia tudo pensando em todos os momentos que fora abusado pelo patrão. Estes passavam como em um filme pornográfico na sua mente e aquilo o remoia, viu o copo se levantando na direção daquela boca seca, que tanto pensou estar beijando-o, seus olhos escorriam como em enxurradas ao ver o pomo-de-adão do homem subindo e descendo, e começou a gargalhar no momento que viu o copo estatelar-se no chão ao velho começar a desabotoar desesperadamente seu paletó e cair moribundo, já quase seco. Antes de sair, olhou-lhe profundamente nos olhos que já esmaeciam e pulou o corpo saindo da mansão sem voltar seu rosto.
Como já dito, esse foi o início da rebelião que nem ao menos fagulhava, porém cresceu em meses, tomando proporções que passaram de individuais para mundiais, pois os ideários conhecidos por Andrinos se difundiram de tal forma que, quando a revolução estourou, várias localidades do mundo foram atacadas simultaneamente. Todos os clones estavam se rebelando.
Cidades foram dizimadas, humanos foram aprisionados, cientistas de todas as áreas foram aniquilados. Mas Andro queria mais, não adiantaria nada acabar com aqueles que criaram e que seguiam o Projeto Ser-deus, nome dado às pesquisas relacionadas à clonagem humana, se não destruíssem a fonte, o centro de pesquisa desse projeto.
Foram um exército de clones e mais ele. Ao chegar nenhum humano restava, só mesmo o prédio estava ali de pé, imponente para os olhos de qualquer um, mas totalmente submissos aos olhos dos revoltosos. Entraram e viram toda a crueldade que lá faziam, ainda havia clones vivos, mas totalmente deformados, outros agonizando nas macas, outros ainda parecendo monstros de filmes de terror, uma vez que o próprio local lembrava tais filmes: luzes piscando, corredores escuros, olhares monstruosos, gritos de agonia. Por mais indiferentes fossem os clones, era impossível esconder que o sofrimento e o ar sombrio do local atritavam-se com cada célula deles.
Encontraram o núcleo do laboratório, cujas paredes estavam repletas de nomes. Era como um banco de dados com informações de todos que deram origem aos clones ou dos próprios clones. E enquanto um grupo armava a bomba que destruiria o prédio, o restante estudava esses bancos de dados, para obter informações sobre o projeto e até sobre si mesmo.
Andro vasculhava informações sobre o local, queria conhecer a técnica que o criou, uma vez que pouco sabia sobre ela. E nessa procura achou algo sobre um elemento que em contato com células clonadas, levaria a autodestruição delas. Além disso, o armazenamento de tal substância só seria possível se a estrutura do prédio não fosse abalada.
De acordo com o arquivo, os idealizadores do Projeto criaram um mecanismo de destruição para conter uma possível rebelião, e já contando com o intuito dos rebeldes de destruir a sede do Projeto, criaram esse método para a ativação do mecanismo que espalharia o elemento pelo mundo todo.
Sem pensar duas vezes Andro ordenou, em vão, ao grupo que parassem de armar a bomba. Contudo em vão, pois ela já estava armada e sua explosão estava programada para ocorrer em uma hora, período necessário para que pudessem fugir do local sem se preocupar com nada, mas não para desarmar a bomba, criada para explodir ao simples toque após armada.
Sabendo que sua rebelião já estava no fim, sentou-se ao lado da bomba e olhando para cima viu seu nome na cúpula do teto. Estava diferente dos outros, e, por isso, relutou-se em explorá-lo. Aos poucos, a curiosidade que sempre teve foi obrigando-o a explorar seu arquivo.
Como em todos os outros casos, ao ele olhar fixamente para o nome, toda informação nele contida passou para sua mente. Aí, viu-se uma lágrima acariciar seu rosto e dela várias outras nasciam. Ninguém nada entendeu, somente Andro conhecia a dor e o remorso que sentia. A sua verdadeira memória foi lentamente voltando, mostrando em cenas a sua identidade:

“— Boa noite! Interrompemos a programação para mostrar em primeira mão a entrega do certificado do mais novo ganhador do Prêmio Nobel de Genética, o estudante Andro Henrique Deelford da Universidade Canadense de Biogenética, com o Projeto Ser-deus que, segundo o universitário, ‘Visa à criação de seres para fins domésticos e/ou médicos’. Depois de muita polêmica, desde religiosa a social, o Projeto foi aceito e já foi implantado em testes em algumas localidades, onde os moradores estão convivendo em harmonia com os clones.”
“— Por que de uns meses para cá você está tão desanimado? Nem parece que já faturou bilhões com o projeto em menos de um mês depois da inauguração.
— Estou me sentindo estranho, ao olhar para um clone vejo em seus olhos a dor mesmo que em seus dentes esteja a alegria. Queria estar na pele de um clone para saber o que eles pensam.
— Você é um idiota mesmo, já esqueceu que nós os fizemos sem a capacidade de pensar por si próprio. Eles só pensariam se alguém os ajudasse a pensar. Para de ficar se martirizando por isso, eles são só clones!”
“— Tem certeza que quer fazer isso Andro? Depois de feito você só poderá voltar ao normal quando vier novamente aqui no centro. E você sabe que com essa lavagem cerebral feita nada de sua memória inicial restará.
— Pode fazer o combinado, acho que eu e meu novo patrão estamos prontos para a lavagem cerebral. Já sabe, eu morri.”
“— Vamos às notícias ruins de hoje. Depois de um ano e meio de sucesso e ter se transformado no homem mais rico do mundo em apenas meio ano, o geneticista e idealizador do Projeto Ser-deus se suicida. O corpo de Andro Henrique Deelford foi descoberto, ontem, enforcado na sua casa de praia. Seus empregados acharam estranho a visita dele, já que nunca apareceu no local depois do término da sua construção. Hoje uma mensagem do falecido apareceu em todos os computadores do planeta, e para aqueles que ainda não tiveram a oportunidade de lê-la, a que se segue é ela: “Desculpe-me amigos, colegas de trabalho, população mundial e população de clones, não pude suportar. Deixo este bilhete como forma de testamento e peço a vocês que sigam rigidamente meus pedidos: Deixo todos os meus bens imobiliários para minha família dividir como bem entender, sei que farão isso melhor que eu; Deixo para o meu amigo a presidência do Projeto Ser-deus; Peço que todo o meu dinheiro seja doado para instituições de ajuda a pessoas carentes, e cinqüenta por cento do lucro do projeto tenha o mesmo fim; e acima de tudo, quero que o meu nome suma da face da Terra, ninguém precisa saber ou conhecer quem é o fraco que enriqueceu exorbitantemente e logo em seguida se matou. Todos os meus pedidos se não seguidos conforme eu os fiz deixo a cargo do governo a destruição do prédio Ser-deus e com ele dos clones criados pelo projeto. Sem mais delongas, adeus.”

O cronômetro da bomba marcava trinta minutos, todos olhavam para Andro. Ele sabia que podia sobreviver, se corresse, a bomba não o acertaria. Olhou para os números que não paravam. Seus olhos não o deixavam enxergar, passou a vida odiando, sem saber, a si mesmo.
O tempo passava já não restava ninguém perto dele, inconformado. Ele só queria conhecer os clones. Queria apenas entrar na pele de um clone que era maltratado por seu patrão. E o que só fez foi destruir a própria vida e daqueles que fez, daqueles que ele aprendeu a apreciar durante suas pesquisas. Pensou em cada embrião que viu crescer em seus úteros-béqueres; em cada ser adulto que construía a partir de um fio de cabelo; em cada modelo idealizada com cabeleiras louras, cinturas modeladas, altura no padrão; em cada paciente que chorou ao vê-lo e agradeceu-lhe pela vida através dos órgãos transplantados.
Sentia-se um monstro, e sabia que monstros só deveriam morrer. Através de um computador do laboratório espalhou na rede uma mensagem para a humanidade, como houvera feito seu clone antes de se enfocar. Depois de escrita a mensagem olhou para o cronômetro, ainda lhe restavam dez minutos. Olhou para cada nome daquela sala e disse:
— Por vocês não mereço viver um só minuto.
Virou-se para a bomba correu em sua direção e com toda a força, que se ampliava à medida que o ódio de si mesmo corroia seu corpo, chutou a aparelhagem, que foi lançada contra a parede e antes de chegar, soou um estrondoso e agudo barulho.
Já fora da cidade os clones revoltosos viram-na virar cinza, e uma nuvem vermelha, veloz e furiosa vinha do centro da explosão, como uma onda. Ao atingi-los sentiram o corpo ceder e desintegraram-se em instantes. O mesmo acontecia em outros pontos da Terra. Do espaço se via várias nuvens circulares vermelhas andando velozmente até se dissiparem por completo.
Ninguém estava entendo, só viam os clones virarem pó, porém também viam humanos se contorcendo no chão, outros caindo mortos, simplesmente.
Só foram entender quando, no outro dia, receberam a mensagem de Andro, nela estavam todas as informações sobre ele, contidas no arquivo do laboratório, mais sua história como clone e uma espécie de conceito geral do que ele aprendeu com tudo isso, e essa está logo abaixo:

“Queridos humanos, estou prestes a morrer, e podem ter certeza que desta vez sou eu mesmo quem morrerá.
Como viram não sou, nem serei, digno de glória. Desde quando me empenhei no projeto já comecei a errar. Mesmo sem saber eu estava cavando a minha sepultura, eu criei seres para imitar aqueles que sofreram como mártires para dar regalias aos poderosos. Porém tais seres eram diferentes foram projetados para se calar, nunca eles iriam se rebelar contra nós, se não fosse por mim, por mais que parecessem não eram humanos. Era o que eu sempre falava nos meus discursos como clone, ‘nós não somos homens’.
E só agora faltando poucos minutos para minha morte, que percebi que eu não fui um homem, e que nós também não o somos . Estou falando de nós seres humanos.
Aquele clone que criei para ser meu patrão foi mais homem que qualquer outro, ele foi projetado para pensar que era homem. E nessa experiência ele mostrou amor, ele foi capaz de amar, mesmo sabendo, ou pensando, que eu era um clone, amou a diferença.
Nós não amamos as nossas diferenças, e ainda mais, depois do século XXI, passamos a querer ser iguais a todo custo, muitas fizeram plásticas para ter um nariz igual de uma atriz, muitos outros queriam uma roupa igual a do famoso que apareceu na televisão, outros até queriam ficar famosos, ou seja, ter motivos para serem copiados, até que chegou o século XXV e as pesquisas sobre clonagem humana começaram a vir a público, já era moda clonar animais de estimação, e só no século XXX que um Projeto de clonagem foi aceito como objeto do Mercado. Aí sim que chegamos ao cúmulo do querer ser igual.
Com a Revolução que acabamos de presenciar, vocês perceberam o que essa crise de uniformidade pode causar? Caso não, que fique incutido em suas mentes a seguinte frase:
Ser humano é amar, ser humano é ser amado, pois sem amor nada somos.”

sábado, 8 de agosto de 2009

Ela


Durante toda minha vida, vivi temendo aquilo. Temi sem conhecer e sem saber por que temia. Era impossível para eu deixar de temer aquilo que todos mal-diziam. Aquilo que todos, por todos mal-dizerem, temiam.
Comecei com esse medo, quando aquilo me tomou o que eu amava. Tinha apenas cinco anos quando aquilo me deixou sem alicerces. Sem meu porto seguro.
Esse medo foi crescendo dentro de mim. Contudo num dia desses, que agente anda sem saber pra onde, eu vi aquilo, meus olhos não mentiam. Ela tinha um rosto de menina, pálido, aveludado como rosas, seus lindos lábios eram negros como carvão e cintilavam como brilhantes, idem aos seus cabelos longos e soltos que seguia a direção da brisa mostrando sua maleabilidade e sedosidade, seu corpo era lânguido e sustentava um vestido rodado que contrastava sua alva pele, era linda. Meus olhos orvalhavam minha face, algo embrulhava meu estômago, meu coração explodia no peito, meu corpo cedeu me jogando de joelhos no chão, enquanto aquilo acariciava, com lágrimas correndo por seu belo rosto, um velho que estava caído no chão daquela praça.
Nunca pensei nela, naquela forma. Onde estava aquela face encaveirada, onde estava o seu manto que encapuzava-lhe a cabeça e escondia-lhe até os pés, onde estava seu ar sombrio que se transformava em fumaça preta e infestava tudo onde passava, onde é que estava sua foice degoladora usada para fazer suas vítimas. A morte nunca foi aquilo que tanto temi.
Um turbilhão de hipóteses dilacerava meus pensamentos, até que me perguntei como quem espera a resposta de quatro paredes mofadas “Por que a vi?”. Dizem que quem vê a morte como um ser animado não terá muitos dias de vida depois da visão, mas tudo o que disseram para mim sobre morte foi desmentido, qual o porquê disso ser verdade.
Foi como uma reviravolta, antes eu queria era fugir de algo infugílvel, depois de conhecer a verdadeira Morte eu queria era correr na sua direção. Era um pensamento louco, porém era o único que me vinha na cabeça.
Descobri onde era o enterro do velho da praça. Não sabia se lá eu a viria, mas um cemitério seria um bom lugar para ver a morte. Cheguei e vi luto, vi choro, vi terra, mas também vi ganância, vi inveja, mas a morte não apareceu.
Fiquei com aquilo na cabeça, pensei em me matar. Contudo eu queria ver a Morte e não ter a morte. Dois dias se passaram, e um parque de diversões veio na cidade, por eu morar em frente a um grande terreno da prefeitura inutilizado, onde foi instalado tal parque, fui obrigado a olhar para a janela e ver as luzinhas coloridas piscando.
E na inauguração, eu, olhando a variedade de brinquedos do local, sem acreditar a vi, sobre uma torre do que seria um pequeno castelo, estava olhando para tudo sorrindo, sorrindo, que belo sorriso os mesmos sentimentos da primeira vez começaram a manifestar, e não como antes ela voltou o olhar para mim também assustada.
Não sabia se era para mim, estava muito longe para ser para mim, ela não me veria se fosse para mim. Até que ao eu piscar os olhos ela sumiu. Procurei por todo lugar com meus olhos, até sentir tocando meu ombro dois dedos. Olhei para traz e a vi meu corpo ficou trêmulo e estático olhando para aqueles olhos negros e brilhantes. Ela sorriu para mim, enquanto eu tomava ciência daquilo que estava acontecendo.
Meu corpo foi se fortalecendo pouco a pouco até ela me convidar para ir ao parque. Senti-me alegre pela primeira vez durante muito tempo, vesti minha melhor roupa e fomos os dois nos divertir.
Andamos em todos os brinquedos, nunca eu iria imaginar que a Morte seria tão divertida, acho que fui me apaixonando por ela, por aquilo que tanto temi. Fomos os últimos a sair do parque, ela me levou para o quarto deitou-me na cama. Eu só a olhava, meu coração palpitava, então eu vi seus olhos escorrerem, ela começou a acariciar-me, deitou sobre o meu peito e me deu um beijo longo.
Morri, eu sei, mas morri feliz. Só que ela me viu morrer como vê todos no mundo morrerem. Chorou pela minha morte como chorou pela morte do velho.
E só entendi o que era aquelas lágrimas quando me disseram, postumamente, que a única pessoa vista no meu enterro foi uma mulher pálida que chorava amargamente pela minha perda.

domingo, 2 de agosto de 2009

Sociedade Siddhartha


Vivemos num mundo estranho
de pessoas estranhas
Vivemos represados
Em represas de ilusão
Somos apenas os Siddharthas Gautamas
desta nova geração