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ASS: Pescador de Sonhos



sábado, 8 de agosto de 2009

Ela


Durante toda minha vida, vivi temendo aquilo. Temi sem conhecer e sem saber por que temia. Era impossível para eu deixar de temer aquilo que todos mal-diziam. Aquilo que todos, por todos mal-dizerem, temiam.
Comecei com esse medo, quando aquilo me tomou o que eu amava. Tinha apenas cinco anos quando aquilo me deixou sem alicerces. Sem meu porto seguro.
Esse medo foi crescendo dentro de mim. Contudo num dia desses, que agente anda sem saber pra onde, eu vi aquilo, meus olhos não mentiam. Ela tinha um rosto de menina, pálido, aveludado como rosas, seus lindos lábios eram negros como carvão e cintilavam como brilhantes, idem aos seus cabelos longos e soltos que seguia a direção da brisa mostrando sua maleabilidade e sedosidade, seu corpo era lânguido e sustentava um vestido rodado que contrastava sua alva pele, era linda. Meus olhos orvalhavam minha face, algo embrulhava meu estômago, meu coração explodia no peito, meu corpo cedeu me jogando de joelhos no chão, enquanto aquilo acariciava, com lágrimas correndo por seu belo rosto, um velho que estava caído no chão daquela praça.
Nunca pensei nela, naquela forma. Onde estava aquela face encaveirada, onde estava o seu manto que encapuzava-lhe a cabeça e escondia-lhe até os pés, onde estava seu ar sombrio que se transformava em fumaça preta e infestava tudo onde passava, onde é que estava sua foice degoladora usada para fazer suas vítimas. A morte nunca foi aquilo que tanto temi.
Um turbilhão de hipóteses dilacerava meus pensamentos, até que me perguntei como quem espera a resposta de quatro paredes mofadas “Por que a vi?”. Dizem que quem vê a morte como um ser animado não terá muitos dias de vida depois da visão, mas tudo o que disseram para mim sobre morte foi desmentido, qual o porquê disso ser verdade.
Foi como uma reviravolta, antes eu queria era fugir de algo infugílvel, depois de conhecer a verdadeira Morte eu queria era correr na sua direção. Era um pensamento louco, porém era o único que me vinha na cabeça.
Descobri onde era o enterro do velho da praça. Não sabia se lá eu a viria, mas um cemitério seria um bom lugar para ver a morte. Cheguei e vi luto, vi choro, vi terra, mas também vi ganância, vi inveja, mas a morte não apareceu.
Fiquei com aquilo na cabeça, pensei em me matar. Contudo eu queria ver a Morte e não ter a morte. Dois dias se passaram, e um parque de diversões veio na cidade, por eu morar em frente a um grande terreno da prefeitura inutilizado, onde foi instalado tal parque, fui obrigado a olhar para a janela e ver as luzinhas coloridas piscando.
E na inauguração, eu, olhando a variedade de brinquedos do local, sem acreditar a vi, sobre uma torre do que seria um pequeno castelo, estava olhando para tudo sorrindo, sorrindo, que belo sorriso os mesmos sentimentos da primeira vez começaram a manifestar, e não como antes ela voltou o olhar para mim também assustada.
Não sabia se era para mim, estava muito longe para ser para mim, ela não me veria se fosse para mim. Até que ao eu piscar os olhos ela sumiu. Procurei por todo lugar com meus olhos, até sentir tocando meu ombro dois dedos. Olhei para traz e a vi meu corpo ficou trêmulo e estático olhando para aqueles olhos negros e brilhantes. Ela sorriu para mim, enquanto eu tomava ciência daquilo que estava acontecendo.
Meu corpo foi se fortalecendo pouco a pouco até ela me convidar para ir ao parque. Senti-me alegre pela primeira vez durante muito tempo, vesti minha melhor roupa e fomos os dois nos divertir.
Andamos em todos os brinquedos, nunca eu iria imaginar que a Morte seria tão divertida, acho que fui me apaixonando por ela, por aquilo que tanto temi. Fomos os últimos a sair do parque, ela me levou para o quarto deitou-me na cama. Eu só a olhava, meu coração palpitava, então eu vi seus olhos escorrerem, ela começou a acariciar-me, deitou sobre o meu peito e me deu um beijo longo.
Morri, eu sei, mas morri feliz. Só que ela me viu morrer como vê todos no mundo morrerem. Chorou pela minha morte como chorou pela morte do velho.
E só entendi o que era aquelas lágrimas quando me disseram, postumamente, que a única pessoa vista no meu enterro foi uma mulher pálida que chorava amargamente pela minha perda.

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