Olá pescadores de plantão agradeço por passarem aqui no meu Lago dos Sonhos e peço pra que, se possível, vcs deixem comentários sobre os textos, afinal sem eles naum terá como eu saber se estão ou não gostando do blog.


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Bjus e espero que gostem


ASS: Pescador de Sonhos



quarta-feira, 24 de setembro de 2008

O olhar do pavão


A neblina esvoaçante era como um tapete que cobria todo o chão. Ela avançava a cada segundo que se passava. Ao mesmo instante a luz da lua banhava os olhos dos amantes naquela noite.
Esse misto de noite clara e neblina pouco densa eram o melhor cenário para um acampamento. Isso pensava Eliane e sua turma.
A cidade de Formosa era muito conhecida pela sua lua cheia, contudo era também conhecida por ser a cidade mais isolada da região, nenhuma informação chegava e nem saia dela, além de que os habitantes não aceitavam que estranhos ficassem por muito tempo na cidade.
Os jovens decidiram entrar pela mata que havia no local, à procura de aventuras. Acharam uma clareira. O luar penetrava e invadia toda a fresta que as árvores deixavam. Decidiram ser lá o acampamento que para eles seria o melhor de suas vidas.
Montaram rapidamente as barracas e logo fizeram uma fogueira. Nas árvores haviam vários olhos que se voltavam para cada movimento que eles faziam, porém um único olho sem par, queimava com um fogo verde-azulado na copa de um carvalho, olhava com um furor, mas logo se apagara.
Ao mesmo tempo os jovens começaram os jogos que trouxeram. Já passava da meia-noite. Não estavam com muito sono. A canção da natureza parecia que ninava os corpos cansativos. Foram se deitar.
Menos André que queria dar uma volta antes de dormir. Ninguém sabia o porquê já que era o mais medroso da turma, até parecia que ele tinha o conhecimento de que era a última coisa que faria antes de cair no sono perpétuo.
O luar dava lugar aos raios de sol, agora a clareira recebia um banho de luz solar. Acharam estranho André já ter se levantado, já que sempre era o último a dormir e acordar, porém acharam mais estranho ainda, quando perceberam que ele não havia nem se deitado.
Separaram-se e foram procurar o colega. Ele não podia ter ido longe. E nem foi. Eliane e Cíntia viram primeiramente rastros de sangue nas árvores e nas folhas, após viram André ao longe sentado no pé de uma árvore, ele tinha marcas fundas de chicote, sem camisa e sangrando muito, a região dos seus olhos estava queimada e suas mãos estavam cheias de hematomas, sendo que em uma havia um chicote também ensangüentado, chegaram mais perto e ouviram André ainda vivo, contudo com uma voz totalmente irreconhecível:
_ Cuidado com o olhar do pavão…
Instantaneamente um vulto passou entre as garotas e cravou-se no peito de André, era uma pena do rabo de um pavão. Nisso ouviu-se um canto suave e melódico, estava numa sintonia perfeita ao balançar das árvores. Ia se alentando, junto com o vento, até que se sentia o tempo parar.
Olharam cuidadosamente para onde André estava, e viram tudo se diluir e desaparecer na infinidade da mata, a única coisa que sobrara era a pena que ficou de pé na frente das garotas.
Cíntia sentiu seu corpo se mexer sozinho e sua mão pegar a pena, o medo da cena se transformava em pavor aos movimentos involuntários que ela sentia. A sinfonia pára. A dor da perda indescritível do amigo fez seus corpos correrem em direção ao acampamento. Já lá, encontraram João e Carla, pálidos como farinha. Contaram da visão, e receberam a notícia de que os amigos viram a mesma coisa, não estavam entendendo nada, mas nem estavam querendo entender. Só queriam fugir.
Arrumaram desordenadamente todos seus apetrechos. Fugiam da noite escura. Por mais que andassem mais perto do fim estavam. Fugiam sem saber pra onde. E só fugiam.
Os últimos raios de sol cortavam a colina verde, chamava o ser para o dia noturno. Andaram durante horas, sufocavam o cansaço com seu pouco fôlego, mas tudo em vão, sempre a brasa acesa da fogueira pairava ao longe, andaram em voltas intermináveis.
A noite cai. Novamente o canto da natureza ninava nossos jovens. Mas ninguém dormiria numa noite daquelas. Ao longe o fogo verde-azulado queimava num leque de três olhos, todos estes voltados para a caça medrosa logo adiante.
As árvores ficavam cada vez mais numerosas. Tudo ia tapando passagem. Olhos seguiam os movimentos que faziam.
Instantes depois, Cíntia se vê sozinha, grita à procura dos amigos, ouve gritos abafados, que vão sumindo, até desaparecerem. O leque se fecha. As árvores abrem caminho para os passos da garota. O vento corta seu cabelo num assovio arrepiante. A canção da natureza já não embalava corpos cansados. O leque aparece.
Eliane se cansara de gritar pela amiga, não por menos, todos estavam com os corpos cansados, gritar só aumentava a fadiga. Sabiam que algo havia acontecido. Não queriam saber tanto. Só queriam fugir.
Acalmaram-se ao ver o céu tomando a cor azul, as árvores abriam passagem para a tranqüilidade, logo quebrada com um susto.
Troncos avermelhados, folhas orvalhadas com sangue, e Cíntia com uma pena de pavão cravada no peito, Não estava no mesmo estado de André, com única semelhança: Os olhos queimados.
Carla virou o rosto, apoiou-se em João. Eliane andou entre as poças, chegou perto e pegou na mão da amiga. Uma lágrima desceu e caiu no centro da pena, que começou a queimar. A menina pulou para trás, e viu tudo pegar fogo, e sumir numa fumaça vermelha. Todo o sangue se evaporava, e subia junto com a fumaça.
O estranho é que nada sobrara, nem sequer as cinzas do corpo. Tudo era enigmático, desde que entraram na floresta.
João levantou Eliane, que estava olhando para o nada sem reação alguma. E os três sentaram no pé de uma grande árvore. Já estavam desistindo de fugir. O cansaço já os matava pouco a pouco, precisavam de descanso.
Sem perceberem já estavam dormindo. O cansaço destruía suas forças, era como a ferrugem corroendo o ferro. O som do rio lutava contra as árvores para chegar aos ouvidos dos três sobreviventes. A sede dava forças ao cansaço, só precisavam de um pouco de líquido da vida para poderem prosseguir.
Acordaram, perceberam o barulho, e acharam o rio. Não tinham tempo para pensar, eram apenas presas de algo que ninguém sabia o que era. Beberam água como animais, se esbanjaram com aquele tesouro natural. Seguiram o rumo daquele rio, sem saber onde ele levava.
Eles seguiam o Sol com seus olhos e ao ele se esconder atrás do horizonte, seus pesadelos começavam. Sem nenhum motivo Carla mergulha na água. No local onde estavam, a correnteza era quase imperceptível, João e Eliane ficaram chamando ela, mas parecia que uma barreira os separava.
Carla nadava, pulava, mergulhava, tudo em perfeita sincronia. Era como se a garota estivesse num transe. Mas num piscar de olhos uma torre de água subiu levantando Carla três metros do nível do rio, ela estava de pé nesta torre. Sua boca se mexia, mas não soltava palavras. Os dois amigos assustaram-se com a visão, mas algo pior estava acontecendo. Os olhos de Carla começaram a queimar com um fogo verde-azulado. Um líquido verde brilhante saia como uma áurea do corpo de Carla e começava a impregnar o rio. Uma voz oriunda da boca da garota sai tenebrosa e assustadora:
_ Minhas presas, em breve cairão no Olhar do Pavão.
Nisso o fogo dos olhos de Carla voam em direção à floresta. O rio volta a sua coloração e fluxo normal. A garota ainda fica flutuando a três metros do nível do rio, só que agora morta e caída sendo segurada pela cintura por algo invisível. Instantes depois ela cai nos braços de João que a segura e a deita no chão. A pena do pavão logo cai rapidamente e se crava no coração da menina, como aconteceu com as outras vítimas.
O solo do local onde Carla estava morta começou a engolir o corpo e tudo que estava em volta dele. Obrigando os amigos a saírem de perto da garota, que sem nenhum vestígio desapareceu no interior da terra.
Os olhos de Carla encontraram, longe dos ainda sobreviventes, o único olho queimando no mesmo tom dos da menina. Logo um leque de cinco olhos se abre desse primeiro e os que chegaram se agrupam a esses, indo um para cada lado do leque, que se fecha e se apaga para esperar uma nova noite.
João e Eliane não acreditavam no que haviam visto, Carla não sabia ao menos nadar cachorrinho, se fosse ela quem estava no rio nunca conseguiria fazer aquelas acrobacias. Tudo estava estranho desde a morte de André.
Já estavam cansados de fugir. Tudo que haviam feito desde o primeiro dia do acampamento foi fugir, e com a fuga um a um dos companheiros morriam misteriosamente, e como a morte os corpos sumiram do mesmo modo. E se não fugissem mais? Poderiam tentar descobrir o que se passava naquela floresta.
Montaram novamente o acampamento, ligaram todas as mortes num ponto comum: os olhos flamejantes. Parecia que toda a vida das vítimas era sugada pelos olhos, que se desprendiam do corpo e seguiam floresta adentro.
Outros fatos também se encaixavam: André não queria de jeito algum acampar na cidade de Formosa, estava morrendo de medo e só veio para não demonstrar que era um medroso; Cíntia quase correu ao vê-lo morto e estava com o corpo tremendo a todo instante desde a primeira morte; e Carla ao ver a amiga morta virou o seu rosto para o lado contrário. Sendo assim tudo indicava que as vítimas tinham os seus olhos arrancados por estarem de alguma forma com muito medo.
João não estava gostando de nada do que estava sendo dito. Não queria ficar ali parado em vez de fugir, porém deixar uma amiga sozinha era a única coisa que ele não faria antes da sua morte que já estava marcada para aquela noite.
O tempo passou depressa enquanto discutiam sobre as mortes. O sol logo deixou a lua tomar o seu posto de soberano dos céus. Muito longe do acampamento o fogo acende novamente para a nova caçada, um lindo leque do rabo de um pavão se abre com sua graça e sutileza em sete olhos incandescentes, com sede de sangue. Sede de medo.
Ao perceberem a escuridão já era tarde. João se levantou estando com os olhos fechados, seus lábios começaram a se mexer, e como Carla, não soltava uma só palavra. Eliane se levantou também, e lendo os lábios do amigo viu que ele ainda estava ciente do que acontecia naquele momento, já que as palavras de socorro saltavam-lhe da boca numa mudez irritante. João dá dois passos à frente em direção á fogueira que separava os dois. A garota como ele em seu ritmo recua os dois passos.
Eliane não queria demonstrar medo, com isso na certa seria a próxima vítima. A única coisa que fazia era recuar os passos do amigo, que de tanto andar na direção do fogo acabou pisando no mesmo.
Quando isso aconteceu algo surpreendente surgiu: as labaredas da fogueira tomaram o tom verde-azulado do leque de olhos, e João ficou parado no centro daquele incêndio. O cheiro de carne queimando era insuportável, mas Eliane ficou lá até o fim.
As palavras mudas de João cessaram-se, ele já estava morto, com isso uma chama apareceu em sua testa, tinha o formato de um olho, olho de caçador encarando a caça, e dele desceram mais três de cada lado, já esses olhando com um ar de súplica e dor.
João abre os olhos que rapidamente começaram a queimar, novamente começa a mexer os lábios, porém, desta vez, suas palavras não são mais mudas, para o azar de Eliane que ouvia aquela voz tenebrosa:
_ Por que não foges minha caça, já sabes que não há como escapar do olhar do pavão?_ enquanto fala dá passos calejados com os pés já em osso puro, negro como o carvão_ O medo dos teus amigos foi um delicioso aperitivo, mas agora tu serás o prato principal.
Os olhos de João saem e vão para cada lado do leque, no seu corpo começa uma transfiguração: O olho maligno que antes era uma chama começa a se tornar real no centro da testa do garoto; o local dos olhos começa a cicatrizar e sumir sem deixar vestígios de que lá houve olho; seus dentes ficaram pontiagudos junto com as unhas, que ficaram enormes; os outros olhos sumiram e se transformaram em um fogo ardente e flamejante com oito chamas livres uma da outra, porém ainda presas às costas do, agora, monstro, como se fossem oito caudas.
Eliane estava aterrorizada com o corpo de João, mas acima de tudo controlava o medo dentro do seu coração. Ela começou a lembrar de cada amigo que perdera naquele acampamento, André com o seu jeitão desconfiado; Cíntia: a inteligência em pessoa; Carla com seu arzinho esnobe, porém meiga e extrovertida; E agora João, que virou um monstro que acabaria com a vida dela.
Ele estava chegando cada vez mais perto, enquanto ela ficava parada olhando fixamente para o nada. Uma força descomunal encheu o seu peito de ar, os dois olhares, dela e do monstro, se entrelaçavam na mesma sintonia, o mesmo ar de caçador pairava sobre cada olhar. Eliane com uma voz forte e de autoridade diz a primeira frase que ouviu do monstro:
_ Cuidado com o olhar do pavão.
Aquele ser percebeu o furor da garota, todo o medo que ela estava sentindo começou a brotar nele próprio, o fogo das caudas ganhou vida e começou a entrelaçar-se no corpo de João. Um grito de horror saia cortando toda a penumbra daquela noite, os oito olhos reapareceram ao lado de Eliane, que como eles começou a queimar, só que num fogo albino quase cristalino.
O ser caiu no chão gritando horrores, toda a transfiguração do corpo de João começou a sumir e o olho central se desprendeu dele, um som ilusório e fantasmagórico ecoou num raio de quilômetros, todos os animais da floresta e habitantes da cidade correram na direção do epicentro do som e lá encontraram Eliane desmaiada no chão rodeada por oito penas de pavão branco cravadas formando um círculo e não tão longe dela o corpo do amigo todo pálido e sem vida ao lado de uma única pena verde-azulada seca e despedaçando com o vento da manhã.

sábado, 13 de setembro de 2008

Insônia


Morfeu, derrames sobre mim seu manto
Tires toda essa angustia do meu peito
Peço que me faças cair sobre o leito
E que enxugues do meu rosto esse pranto

Venhas pra me dar esse doce encanto
Venhas para criar o sonho perfeito
Já sei que pra tudo se tem um jeito
E por isso te clamo oh Deus santo

Passo, esperando, toda a noite, em claro
A graça da visita tua oh Deus
E ainda tu, do meu estado, tiras sarro

Uma vez que, vestígios, não encontro, seus
Nem vou encontrar nesta cama de barro
Quem cures essa insônia, nos dias meus

quarta-feira, 10 de setembro de 2008

Sonhar como criança


Joãozinho sonhou ser cantor
Cantava melodias para crianças como ele
Joãozinho sonhou ser professor
Ensinava matemática para crianças como ele
Joãzinho sonhou ser agricultor
Plantava alimento para crianças como ele
Joãozinho sonhou ser médico
Curava doenças de crianças como ele
Joãzinho sonhou ser ator
Encenava peças para crianças como ele
Joãozinho sonhou ser escritor
Escrevia histórias para crianças como ele
Joãozinho sonhou ser mestre cuca
Cozinhava delícias para crianças como ele

Mas hoje em dia
Joãozinho não tem tempo de cantar
Não tem tempo de ensinar
Não tem tempo de plantar
Muito menos de curar
Não tem tempo de encenar
Não tem tempo de escrever
Não tem tempo de cozinhar
Não vê tempo para sonhar
Pois mesmo sendo criança
Só tem tempo para trabalhar