Procurei meu encosto poeta
E ele se foi
Dos canônicos aos undergrounds
E ele se foi
Na contemplação das coisas
E ele se foi
Nos fatos de minha simples vida
Exorcisou-se meu encosto poeta
Há anos não olho pras nuvens e
vejo a areia azul se espumando com as ondas deste mar atmosférico
Há anos não vejo as serpentes
gêmeas do rush noturno
Uma de um incandescente e sonoro vermelho
a velozmente ir
E outra no seu singelo branco
luzidio a vir
Há anos encosto poeta
Há anos sem sentir o prazer de
ler aquilo que essas teclas que atraem os meus dedos escreveram
Mesmo que não minha alma, mas meu
corpo a compôs
Há anos, meu encosto poeta, e
justo hoje tomou meu corpo de mim
Justo hoje quando estou sem lápis,
borracha
Sem a matéria-prima, que riscada
pelo papel, deu à luz as obras de outrora
Justo hoje eu aqui, num quarto
escuro amoitado, com uma leve penumbra a acariciá-lo
Penumbra formada em fronte meu
rosto
Que num som de datilografia vai
sendo levado, seguindo pixels incessantes a formar caracteres
Justo hoje, encosto poeta, tirou
mim mesmo de mim
Pra com dígitos isso compor
Pra tão logo composto sumir
Atiçar a maldição de ser poeta ao
acaso
A maldição de esperar que esse
encosto poeta venha pra ir
Maldição de tentar escrever, para
ouvir de dentro da sua mente, seu subconsciente afoito depois
[de procurar por
todos os longínquos recantos dessa obscura massa cinzenta dizer
Que ele se foi