Flores no jardim. Borboletas e pássaros enfeitavam a bela fachada do casarão. Enfeitavam o local onde estava sendo dada uma festa. Aquela que mudou a minha vida:
Já era noite, todos os convidados já haviam chegado. Como era de costume na minha família, logo após a chegada do último convidado era que se começava a abertura dos presentes pra enfim ser entregue o bolo_ ninguém sabia qual era o fundamento desse costume, mas todos nós o seguíamos rigidamente.
Comecei a abrir o primeiro presente, um lindo vestido saiu da caixa com seu tecido leve e aveludado; outros vieram depois desse.
Porém, quando o último foi aberto, eu e os outros, que lá estavam comigo, notamos que havia um presente jogado no chão, ninguém se declarou sendo a pessoa que mandara o presente e o mais curioso era que todos da festa já tinha declarado mandantes dos outros que já haviam sido abertos.
Mesmo não sabendo quem era a pessoa que me deu aquele embrulho, abri a fita negra que se encontrava em torno de um papel roxo e áspero, que foi aberto com uma delicadeza capaz de prevenir que fosse rasgado. Por baixo do mesmo havia uma caixa retangular de bordas arredondadas, feito de um mármore cor de sangue_ não sei como obtera essa coloração, mas era exatamente a cor do material de que aquele objeto fora feito.
Abri o belo estojo e vi nele, cintilando, pedras que alternavam as cores da fita, do papel e da caixa. As contas foram dispostas de uma maneira que se reproduzisse um lindo colar, tendo como um pingente as iniciais do meu nome: Beatriz Jane Soares.
Até então eu estava sentada abrindo o presente, porém, ao ver o colar, me levantei e agradeci pelo mesmo, caso o mandante ainda estivesse no local.
Os anos se passaram e eu sempre com aquele colar no pescoço. Apesar de não ter nenhum valor sentimental para mim, nunca me desfiz dele.
Porém, num dia, conheci uma pessoa, foi amizade a primeira vista, só que durou poucas horas, nós até queríamos continuar a nos falar, contudo nossos caminhos se tornaram contrários. Ele me pediu uma lembrança e a única coisa que eu tinha era o colar, tirei-o, coloquei no seu pescoço e num gesto de adeus dei-lhe um beijo no rosto.
Foi muito desgostoso perder uma amizade logo que começou, mas no outro dia, na mesma hora em que havia conhecido Carlos, vi na TV o seguinte anuncio:
_Acaba de ser encontrado o corpo de um estudante que apresenta indícios de homicídio. Segundo os familiares da vítima, que já estão no local, seu nome é Carlos Rocha.
Ao ouvir o nome da vítima e ver seu retrato na tela, senti um aperto no coração parecia que minha casa era um forno de tão sufocante que estava, decidi tomar um ar e vi algo que me lembrou do passado: um presente envolto em um papel roxo, amarrado com uma fita negra e acima um bilhete escrito “Isso não me pertence Beatriz”.
Lembrei que durante a conversa com Carlos, havia contado toda a história do colar e pensei que ele poderia ter vindo entregá-lo antes de morrer.
Fui ao seu enterro, com o colar no pescoço, após ele ser enterrado fiquei vagando sem rumo, pensando no porquê de ele ter me devolvido aquela jóia, andei horas até que parei numa praça e nela eu encontrei um amigo da minha época de pré-escola, foi impressionante ver que o tempo não havia mudado o Leandro fisicamente e sua boca ainda tinha aquela aparência de rosas que deixava todas as garotinhas apaixonadas por ele. Como antes, quando eu era pequena, fiquei louquinha quando ele tocou a minha face com seus lábios. Conversamos bastante e quando já era noite ele começou a falar do colar
Leandro elogiava muito aquele adereço e de tanto ficar falando eu o presenteei com o mesmo.
Voltei para a casa de táxi. Com a conversa que tive com o Leandro me esqueci da dor que estava sentindo pela morte do Carlos e pude dormir sem medo.
Contudo, no outro dia, fui para o mesmo local que havia encontrado meu amigo de infância e para a minha surpresa uma aglomeração de pessoas se reunia envolta do mesmo banco em que eu e ele estávamos sentados, quando consegui penetrar aquela barreira humana um sentimento de terror e agonia pairavam no ar que eu tragava pesadamente.
O corpo de Leandro estava todo esfaqueado, no mesmo local e com a mesma posição que estava ontem. Corri feito uma louca, minhas lágrimas chegaram a congelar ao tocar a minha pele fria e mórbida, porém quando tudo não podia piorar eu cheguei em casa e vi aquele presente com o mesmo bilhete “Isso não me pertence Beatriz”.
Até então o horror de ver o cadáver do Leandro me perseguia, porém quando eu vi aquele embrulho um terror maior tomou conta do meu ser.
A família do Leandro velou o seu corpo durante um dia e minutos após o enterro eu fui visitá-lo, afim de não encontrar nenhum familiar, mas não foi bem o que aconteceu.
O irmão da vítima estava ainda lá e quando eu cheguei me deu um abraço e começou a chorar, me disse muitas coisas sobre o irmão, porém eu já estava com uma agonia muito grande por perder dois grandes amigos então disse a ele que eu era a última pessoa a quem se poderia pedir consolo, contudo eu daria o meu colar como forma de consideração ao irmão dele que havia gostado muito daquele adereço.
Ele disse que não poderia aceitar o presente, mas eu pedi que aceitasse em nome do Leandro. Após a minha fala, ele me beijou agradecendo-se e foi embora. Já eu fiquei lá chorando aos pés do túmulo pensando no que levou a morte dos meus amigos.
Voltei pra casa ainda pensando nisso e liguei as duas mortes, nos dois casos eu havia dado o colar e nos dois o colar havia retornado a mim do mesmo modo que o vi pela primeira vez. Na certa aquela jóia era amaldiçoada, mas só lembrei que já tinha dado o colar para alguém quando já era noite.
Procurei por todo o canto saber alguma coisa sobre o irmão do Leandro, passei a noite em claro, contudo não consegui nada, já tinha em mente o que iria acontecer a ele, estava quase desistindo, porém quando eu olhei para o espelho da minha penteadeira mandei um beijo para o meu reflexo_ gesto que me dava força e vontade para fazer algo_ continuei a procurar o contato, mas em vão, pois as seis horas da tarde do outro dia vejo o anuncio na TV:
_Morreu hoje a uma hora atrás um jovem que foi visitar seu irmão no cemitério, morto anteontem, esfaqueado na Praça Central da cidade.
Quando eu ouvi isso fui correndo para fora de casa e vi o embrulho com um bilhete em cima, desta vez com uma continuação: “Isso não me pertence Beatriz, porém pertence a você minha amada, que custa a me trair beijando aqueles rapazes”.
Quando eu li o bilhete ouvi uma voz vindo de traz de mim:
_Até então você pensava que o colar era amaldiçoado, mas eu mandei-o como um aviso. BJS não era as suas iniciais e sim a sigla de beijos. Eram os seus beijos que ditavam a morte de quem você beijasse, porém você saiu amaldiçoando varias pessoas inclusive você ao beijar o seu reflexo e por isso merece a morte!
Depois do anuncio de que eu morreria rapidamente peguei o colar e coloquei no pescoço do assassino que apunhalou meu coração e se matou depois, pelo último beijo que havia dado, antes de morrer.
Um comentário:
Amei, Adriel!
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